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Marcos Troyjo
Riscos de um 'selfie' em Davos
Para reverter o desânimo dos mercados, Dilma não pode cair no erro de uma fala autocongratulatória
A presidente Dilma subirá ao palco do Fórum Econômico Mundial na sexta que vem. Em meia hora, tentará reverter o desânimo com que os mercados veem o futuro próximo do Brasil.
Poderá, no entanto, empalidecer percepções ainda mais. Basta que sua fala seja um "selfie" --uma arenga autocongratulatória das "realizações" dos governos petistas.
Quarenta chefes de Estado vão a Davos. Quase 3.000 líderes empresariais. Jornalistas e burocratas globais completam a turma. Se Dilma usar a ocasião para traçar autorretratos destinados ao eleitorado brasileiro, a escalada alpina será um desserviço ao interesse nacional.
Em 2002, havia a "brasilfobia" provocada pela incógnita "Lula". Sucedeu-a em 2010 a "brasilmania", precipitada pelos 7,5% de crescimento e pela promessa de efeitos multiplicadores dos megaeventos.
Hoje o que domina é a "brasil-apatia". Segundo o Banco Mundial, em 2014 cresceremos abaixo da média global. E perderemos de todos os emergentes, salvo Irã e Egito. Nada de colapso econômico. Nada, porém, de escapar dos inerciais 2% de expansão ao ano.
A chance da repetição de um discurso "selfie" é alta. A intervenção de Dilma tem tudo para ser uma "fondue" entre a exposição autista feita no Goldman Sachs em setembro e a idílica mensagem de fim de ano.
Na primeira, Wall Street foi informada de que o Brasil implementa o "maior programa de concessões do mundo" e sua política industrial "foca em inovação e desenvolvimento tecnológico". Na segunda, os brasileiros soubemos que em 2014 nosso padrão de vida será "ainda melhor".
Em Davos, fazem-se comparações. O Brasil impressiona mais quando se mede contra seu próprio passado. Menos quando se ladeia com emergentes asiáticos ou com seus primos latinos da Aliança do Pacífico (México, Chile, Colômbia e Peru).
O problema é que Davos estará cheio de guerreiros psicológicos. Como o fórum se inicia dois dias antes, quando a presidente fizer sua intervenção na sexta os milhares de presentes já terão sido martelados com análises de que "os ricos estão emergindo".
EUA, Europa e Japão voltaram a crescer e isso não é necessariamente boa notícia para países que, como o Brasil, vislumbraram o declínio do capitalismo interdependente.
O Planalto aposta que a simples presença de Dilma ajuda na retomada da confiança no Brasil. A mensageira seria mais importante que a mensagem. Tal superestimação é um erro.
Uma presidente carrancuda lendo roboticamente um "selfie" prefabricado não inflexionará opiniões. Falar de improviso, olhar nos olhos, comprometer-se com reformas estruturais, reconectar-se à globalização, dizer que o país não se permitirá ficar para trás --isso, sim, pode surtir efeito. Ela terá essa postura e visão?
Em 2010, quando era "o cara", Lula admoestava Davos: "Não há sinais de que a crise tenha servido para repensarmos a ordem econômica mundial".
Tomara que Dilma dê sinais de que a nova ordem econômica mundial está servindo para que o Brasil se repense --e se reposicione.