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Foco

Autor e atriz de novela na Venezuela rebatem críticas de Maduro em discurso

História trata assassina como heroína, e TVs fomentam 'antivalores da morte', diz presidente, que defende controle de conteúdo televisivo

ROGÉRIO ORTEGA DE SÃO PAULO

Imagine um presidente discursando contra um vilão de novela: José Sarney atacando Maria de Fátima (Glória Pires) em "Vale Tudo", Lula chamando Nazaré Tedesco (Renata Sorrah) de "mau exemplo" em "Senhora do Destino" ou Dilma Rousseff condenando Félix (Mateus Solano) em "Amor à Vida".

Nunca aconteceu no Brasil, mas acontece na vizinha Venezuela --a ponto de o autor e uma atriz de uma popular telenovela protestarem publicamente contra o pronunciamento do presidente Nicolás Maduro na última quarta.

No discurso à Assembleia Nacional, o mesmo em que anunciou a limitação da margem de lucro das empresas venezuelanas a 30%, Maduro acusou as emissoras de TV do país de fomentar "antivalores da morte: o culto às armas, às drogas, à violência".

O presidente afirmou ainda que uma "novela muito famosa" mostrava como heroína uma personagem que matara nove pessoas, inclusive a mãe --e nem foi preciso citar nomes para os venezuelanos reconhecerem o enredo de "De Todas Maneras Rosa" e sua vilã, Andreína Vallejo.

Em carta publicada ontem pelo jornal "El Universal", o autor da novela da rede Venevisión, Carlos Pérez, negou que Andreína seja a protagonista: "Ao contrário, é exemplo do que não se deve fazer. É a vilã, irreversivelmente condenada ao fracasso e a ser castigada pela sua maldade".

Em sua defesa, Pérez citou ainda "Os Miseráveis", de Victor Hugo (1802-1885), "a rigor a história de um ladrão" (o protagonista, Jean Valjean), e lembrou episódio ocorrido com o mentor de Maduro, Hugo Chávez (1954-2013), quando este estava preso por sua tentativa de golpe em 1992, antes de ser eleito presidente.

"Quando escrevemos Por Estas Calles', recebemos uma carta do cárcere em que o comandante Chávez felicitava os escritores. E, se alguma novela mostrou cenas de violência, foi precisamente essa."

A intérprete de Andreína, a ex-miss Venezuela Norkys Batista, reagiu com veemência. Disse no Twitter que sua personagem era uma "psicopata" e perguntou se seus colegas "atores revolucionários" nunca haviam interpretado assassinos. Afirmou ainda temer por sua segurança.

Críticos de Maduro, por sua vez, temem que o presidente aja como censor. No discurso, ele disse ter ordenado à ministra das Comunicações que "revisasse" toda a programação das TVs do país, para "construir uma cultura de paz para nossas crianças".


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