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Romênia vive temor de 'êxodo europeu'

Desde o Ano-Novo, cidadãos do país podem trabalhar livremente na UE; jovens se queixam de falta de perspectiva

Ciganos são principal alvo do receio de países como o Reino Unido; há desinformação entre os emigrantes, diz governo

LEANDRO COLON ENVIADO ESPECIAL A BUCARESTE

Com histórias de vida distintas, Mitica Gregore, 38, Gabriela Micu, 22, e Raluca Popescu, 20, têm em comum a falta de perspectiva econômica na Romênia e uma nova janela de oportunidade dentro da União Europeia.

Desde 1º de janeiro, eles podem deixar o Leste Europeu a qualquer momento para trabalhar em outros países do bloco. Romênia e Bulgária entraram em 2007 na UE, mas ficaram numa "segunda divisão" até este ano, quando seus cidadãos ganharam livre trânsito para trabalhar.

Apesar de prevista, a nova regra da imigração gerou uma paranoia no Reino Unido, que prevê uma invasão de até 70 mil búlgaros e romenos por ano --hoje, 141 mil vivem em território britânico.

A Folha passou a semana em Bucareste. No centro, encontrou a jovem Gabriela Micu, funcionária de uma banca de jornal. Ganha € 200 por mês (cerca de R$ 640) e já estima receber o dobro na Alemanha ou na Inglaterra.

Estudante de Geografia, Raluca Popescu representa uma geração de universitários que nem pensa em viver na Romênia após a conclusão do curso. "Aqui não temos oportunidade, perspectiva, o salário é baixo e a única maneira de crescer é migrar."

O cenário mais simbólico é o de Mitica Gregore. Ele é um gypsy (conhecidos no Brasil como ciganos), que são 10% da população do país.

Os gypsies da Romênia são o principal alvo do governo britânico por carregarem o estigma de viajar sem perspectiva de emprego, além de ignorar leis locais. Levam ainda a fama, inclusive nas ruas de Bucareste, de trapaceiros --imagem que consideram preconceituosa e mentirosa.

A reportagem esteve numa espécie de "feira do rolo" dos gypsies, na periferia da capital romena. Segundo as autoridades, 60% dos produtos negociados são roubados, muitos em países vizinhos da UE, o que dificulta a investigação de sua origem.

Lá, o escambo é geral: celular, tênis, roupas, peças de carro, bicicletas. "Negociador" da feira, Gregore contou que viveu em Londres há três anos. Não quis dizer como ganhava a vida, mas deixou claro que pretende voltar em breve, ainda mais agora, sem barreira legal para trabalhar.

Bucareste ainda respira uma certa ressaca da revolução de 1989, que derrubou o ditador comunista Nicolae Ceausescu, morto por fuzilamento após ser condenado por um tribunal local.

A integração ao bloco em 2007 foi um caminho para a Romênia se alavancar no mercado europeu. Por outro lado, a diferença econômica para outros membros da UE, visível inclusive nas ruas da capital, impõe ao país o desafio de evitar o êxodo.

A Romênia tem um dos piores salários mínimos entre os 28 membros do bloco, menos de € 180 (R$ 570); no Reino Unido, o valor é de cerca de € 1.200 (R$ 3.800).

DESINFORMAÇÃO

Assessor da Presidência da Romênia, o especialista em diplomacia Dan Dima disse à Folha que há falta de informação entre os emigrantes.

"É estupidez achar que temos de dar dinheiro para eles ficarem. A população tem o direito de buscar o que for melhor. O que temos de fazer é informá-la da realidade, sair só com algo garantido."

"Hoje, metade dos que deixam o país não tem a mínima consciência do que vai encontrar. Ao mesmo tempo, Londres tem recebido 3.000 médicos da Romênia", disse.

Desde o fim de 2013, o premiê britânico, David Cameron, tem anunciado cortes em benefícios do governo a novos imigrantes. Quer ainda mudanças no livre trânsito na UE, posição considerada discriminatória por outros membros.

O tema deve dominar a eleição do Parlamento europeu, em maio. França e Alemanha também estão em alerta às novas regras, mas agem com mais cautela.


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