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Análise

Como África do Sul, Teerã é prova do inesperado na diplomacia

SHERVIN MALEKZADEH ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando Nelson Mandela morreu, líderes e políticos de todos os matizes o celebraram como estadista. Mas, em seus anos na prisão, não faltavam nos EUA partidários do regime que o colocara lá --e detratores no governo e na direita viam o futuro Nobel da Paz como pouco mais que um terrorista e um charlatão.

É difícil recordar hoje, mas a África do Sul foi país de péssima reputação. Membro do Eixo do Mal nos anos 80, era tido como malévolo o bastante para fornecer vilões à imaginação pública, do implacável P. W. Botha ao bandido de "Máquina Mortífera 2".

A evolução da relação EUA/África do Sul é instrutiva quanto à melhora na relação EUA/Irã, tornada possível pela surpreendente eleição de Hasan Rowhani.

O presidente do Irã adotou um caminho duplo para a diplomacia, visando negar às elites políticas dos EUA uma posição de superioridade moral e, ao mesmo tempo, buscar diálogo direto com o público americano mais amplo.

O uso de veículos como Facebook e Twitter melhora a imagem iraniana no exterior ao ajudar os americanos a esquecer o Irã de Ahmadinejad, do filme "Argo" e de líderes que negam o Holocausto.

Os tuítes são sintomas de um público iraniano cansado de ser visto como pária. Eleições têm consequências, até no Irã, e se Rowhani está em condição de conduzir campanhas no Twitter é porque foi levado a essa posição por um povo ansioso por restaurar o bom nome de seu país.

As raízes da reabilitação iraniana recuam ainda mais, ao Movimento Verde de 2009. As imagens de iranianos marchando aos milhões, exigindo respeito a seus votos e sendo detidos, espancados ou coisa pior, tornaram possível aos americanos se imaginar como companheiros na luta pela democracia, um conflito patrocinado pela tecnologia do Twitter e do Facebook.

O Movimento Verde fez os norte-americanos voltarem a aceitar a possibilidade de um "bom" Irã e abriu caminho à atual diplomacia pública e via mídia social de Rowhani.

Foi necessário surto similar de violência para que se prestasse atenção ao sofrimento dos negros sul-africanos: o massacre de mais de 500 estudantes no levante de Soweto, em 1976. Ele fez da África do Sul, para os americanos, novo estágio na luta continuada por direitos civis.

Inesperados, Soweto e o Movimento Verde ilustram a natureza desestruturada da diplomacia pública. A história recorda a melhora de reputações nacionais como resultado de projetos intencionais liderados por uma elite.

Mas, em momentos críticos da África do Sul e do Irã, governo e oposição estavam defasados com relação à opinião pública, correndo para responder a acontecimentos que pouco tinham feito para formular ou controlar.


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