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México reescrito

Mudanças na venerada Constituição, de 1917, geram reação, mas governo diz que são fundamentais para que país volte a crescer

SYLVIA COLOMBO ENVIADA ESPECIAL AO MÉXICO

No último dia 5, o México celebrou mais um aniversário da Constituição de 1917.

Nacionalista, anticlerical e liberal, fruto dos anos revolucionários, foi das primeiras na história a garantir leis trabalhistas, além de estabelecer uma ampla reforma agrária e eliminar a influência da igreja da vida política do país.

No dia de seu 97º aniversário, porém, os mexicanos celebraram sua vanguardista Carta Magna de distintas maneiras. Sobre todas pairava a preocupação com uma recessão, banho de água fria após projeções internacionais otimistas indicarem um novo "momento mexicano".

Em 2013, devido à desaceleração norte-americana, a economia mexicana cresceu menos da metade do previsto (1,3%), abrindo brecha para o retorno das manifestações de rua e para um racha no Pacto pelo México, acordo entre partidos que permitiu aprovar reformas econômicas e políticas.

Às 10h do dia 5, diante do Monumento à Revolução, onde se encontra o museu dedicado a heróis daquele período, reuniram-se mais de 2.000 pessoas num ato contra o que consideram ataque ao célebre texto.

Para eles, é inconstitucional a alteração, aprovada pelo Congresso em dezembro, da permissão da participação de capital privado na PeMex (Petroleos Mexicanos). "É um atentado à soberania nacional, pilar da fundação do país", diz o veterano líder esquerdista Cuauhtémoc Cárdenas, filho do presidente Lázaro Cárdenas, que nacionalizou o petróleo em 1938.

Enquanto isso, a cerca de 200 km dali, o PRI --originalmente o partido dos revolucionários, hoje pilar da centro-direita liberal-- reunia-se em Querétaro para um ato solene de homenagem à data.

No teatro municipal, onde os revolucionários proclamaram a Constituição, deputados e autoridades, todos de gravata vermelha e gel no cabelo, aplaudiam o presidente Enrique Peña Nieto, que comemorou o aumento da nota mexicana por agências como Moody's e Standard & Poor's.

"O país terá um crescimento de pelo menos 1% apenas com a reforma energética, teremos mais investimentos estrangeiros e será possível criar mais empregos", disse à Folha o secretário de Economia, Ildefonso Guajardo.

TAMALES

A região de Aguascalientes, Querétaro, Nuevo León e Puebla é um orgulho da atual gestão. Perto do local onde o imperador Maximiliano da Áustria foi executado em 1867 numa atitude de recusa à intervenção estrangeira, hoje estão instaladas multinacionais como General Motors, Ford, Chrysler, Honda, Mazda, Nissan e Bombardier.

A Folha visitou o local, onde se constroem conjuntos habitacionais gigantes para trabalhadores de todas as partes do país. Cerca de 30 famílias por dia chegam para atuar na produção de carros, aviões e helicópteros.

"Começou após o terremoto de 1985, que fez com que muitas empresas quisessem sair do Distrito Federal por questões de segurança. Depois veio o Nafta [acordo de comércio da América do Norte] e acordos que facilitaram a implementação do centro", diz Samuel Lara, do escritório de promoção Pro México.

O trânsito de produtos para os EUA, destino de 80% das exportações mexicanas, é facilitado por um conjunto de estradas com rotas nos EUA e Canadá, conhecido como "Nafta Highway".

"Desenhamos nossos cursos de acordo com as necessidades das empresas", disse Federico Pérez Fuentes, diretor de planejamento dos cursos da Unaq (Universidad Aeronáutica en Querétaro).

Com recursos do Estado, a universidade forma engenheiros e operadores para trabalhar nas fábricas. "Os jovens são recrutados pelas empresas nos povoamentos ao redor. São entregues a nós, que os formamos. Já saem daqui com emprego."

Iniciativas como as do polo de Querétaro estão ajudando a reverter um dos problemas crônicos do México, o da imigração da mão de obra.

Cerca de 100 mil empregos foram criados desde 2010 na indústria automobilística mexicana, ultrapassando a região de Detroit, nos EUA.

É pouco, porém, ainda, para resolver outra dificuldade histórica mexicana, a informalidade. Cerca de 60% da população ativa está em empregos considerados informais, o que reduz a capacidade arrecadadora do Estado.

"Não pago um centavo de imposto, mas aqui todo mundo me conhece e compra todo dia meus tamales [comida típica, à base de milho]", diz Dolores Pérez, que tem uma barraquinha numa esquina de uma área nobre da capital.


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