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Site é alternativa a jornais em El Salvador

Sem versão em papel, 'El Faro' ganha projeção internacional ao publicar reportagens sobre corrupção e violência

Apesar de ser sucesso editorial, publicação não consegue arcar com seus custos sozinha e depende de fundação

SYLVIA COLOMBO DE SÃO PAULO

A três semanas do segundo turno das eleições presidenciais, enquanto os jornais tradicionais salvadorenhos veiculam matérias amorfas sobre as campanhas dos candidatos ou exploram a história fantástica do náufrago José Salvador, o site "El Faro" (www.elfaro.net) traz entrevistas com líderes das gangues que ameaçam o fim da trégua que pacificou o país há dois anos.

Trata também de corrupção e questiona o governo e o Exército pela falta de transparência em atos recentes.

Há 15 anos no ar, o site, lido hoje por 300 mil pessoas ao mês e sem planos de partir para o papel impresso, coleciona também alguns êxitos editoriais.

O principal responsável por eles é o jornalista Óscar Martínez, 31, autor de "Los Migrantes que no Importan", que narra o drama dos centro-americanos ilegais que rumam para os EUA.

Martínez é também o coordenador do projeto Sala Negra, seção do "El Faro" dedicada a projetos especiais sobre violência e temas centro-americanos, que traz ao mercado agora a coletânea "Crónicas Negras "" Desde una Region que no Cuenta" (Aguilar).

O livro reúne longas reportagens produzidas pela equipe de cinco jornalistas e um fotógrafo comandados por Martínez.

"É um privilégio termos formado uma equipe especializada, que pode se dedicar apenas à investigação. Ganhamos isso com o tempo", diz Martínez, em entrevista à Folha, por telefone.

O jornalista considera que a internet é fundamental em seu país para difundir um jornalismo de qualidade e que trate de temas que a imprensa tradicional não cobre. "Somos ainda um país que vive as consequências da guerra civil [1980-1992], nossa imprensa ainda é muito convencional, medrosa e reconhecidamente corrupta", diz.

"Crónicas Negras" é parte de um projeto multimídia, que se desdobra no site e em documentários.

"Para mim é importante transformar o conteúdo em várias plataformas, pois muitos personagens de nossas crônicas são parte da sociedade que não tem acesso à internet", diz.

Dos 7 milhões de habitantes de El Salvador, apenas 16% têm acesso à rede.

O índice, porém, é bem maior hoje do que quando o site começou, quando estava ao redor de 2%.

O "El Faro" surgiu em 1998, fundado por Jorge Simán, salvadorenho de origem palestina, e Carlos Dada, de origem grega. De início voltado para intelectuais e empresários progressistas que começavam a retornar ao país depois do período de violência, o site logo atingiu a crescente classe média de El Salvador.

FUROS

Entre os principais furos do "El Faro" está a entrevista com o capitão Álvaro Saravia, um dos assassinos do monsenhor Óscar Romero, em 1980. Romero, que era muito querido pelos fiéis, foi morto enquanto celebrava uma missa em 24 de março de 1980. A revelação foi publicada em 2010, 30 anos depois do crime.

Mais recentemente, o site acompanhou os bastidores da trégua estabelecida entre as gangues urbanas e a participação do governo do presidente Maurício Funes (FMLN).

Em recente viagem pelos EUA para promover seu livro, Martínez disse que há muita dificuldade, ainda, de fazer com que os problemas da América Central toquem os norte-americanos. "As gangues que atuam aqui hoje nasceram lá, entre imigrantes que depois foram deportados. A ligação entre os dois países é profunda. Quando estou lá e digo isso, os editores não entendem, fazem que não é com eles", diz Martínez.

Apesar do êxito editorial e da projeção internacional, "El Faro" não sobrevive apenas de publicidade. Depende também de doações de fundações, como a Open Society Foundations, de George Soros.

"Estamos buscando alternativas. Por ora, é o modo que encontramos para financiar nosso trabalho, mas o mercado está mudando e novas opções surgirão", diz.


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