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Matias Spektor

Sem fronteiras

A meta do governo de enviar 100 mil estudantes ao exterior só será atingida com contabilidade criativa

Causou furor nas redes sociais a redução do número de vagas para o próximo concurso do Instituto Rio Branco, que há pouco selecionava mais de cem candidatos por ano e agora pinçará apenas 18.

O barulho ofuscou duas notícias importantes. Primeiro, a boa. Depois, a deprimente.

O chanceler Luiz Alberto Figueiredo acaba de circular a seguinte consulta entre seus funcionários, que devem respondê-la em caráter anônimo: que medidas poderiam ser adotadas para aprimorar o funcionamento de sua unidade de trabalho? E o funcionamento do Ministério das Relações Exteriores? E sua situação pessoal? Outros comentários ou sugestões?

Abre-se uma rara temporada de criatividade na complexa Nave Mãe que é o Itamaraty.

Já tem gente oferecendo dicas práticas para transformar o Rio Branco em escola de formação profissional, para modernizar os métodos de trabalho e para reduzir o desperdício boçal com aluguéis e passagens (que beneficia prestadores de serviço, mas nem sempre os próprios funcionários).

Junto ao chamado "Livro Branco de Política Externa" --o inventário da situação do ministério que está em vias de elaboração--, a consulta de Figueiredo pode ser um valioso instrumento de política pública.

A segunda notícia é lamentável.

Uma das principais iniciativas de política externa deste governo é o Ciências sem Fronteiras, que financia a ida de 100 mil estudantes para universidades estrangeiras.

Gente interessada até tem, mas muitos travam na barreira da língua. Dos 18 mil alunos destinados para os Estados Unidos, 43% precisam de curso linguístico adicional e, por isso, não têm aceite garantido no curso acadêmico.

Para solucionar o problema, os técnicos do programa desenvolveram o "Inglês sem Fronteiras", em parceria com a National Geographic. É um investimento inteligente e de longo prazo.

Só que o governo se interessa menos pelos alunos do que pelo cumprimento da meta arbitrária dos 100 mil. Assim, decidiu despachar meninos para os países de destino a fim de estudar inglês, não ciência.

Espera-se que eles adquiram fluência em língua estrangeira, em nível acadêmico, em poucos meses.

Além de irrealista, a medida é um desperdiço faraônico de dinheiro público.

Agora, o governo precisa decidir o que fazer com aqueles alunos que, mesmo depois do intensivão de línguas no exterior, ainda não conseguem aceite nas universidades por falta de fluência.

A Capes sugeriu trazê-los de volta de imediato. No entanto, como revelou esta Folha no domingo passado, o governo rejeitou a proposta "devido ao potencial impacto político do seu retorno". Os meninos continuam fora, estudando línguas por doze meses, a custo de ouro.

Enquanto isso, o Ciência sem Fronteiras está solicitando uma suplementação orçamentária de R$ 863 milhões. Afinal, já estamos no último ano do programa e ainda falta mandar quase 40 mil alunos para cumprir a meta.

Quem entende do riscado sabe que ela só será atingida com contabilidade criativa.


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