Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Acordo para conter violência antecipa eleições na Ucrânia

Plano prevê volta à Constituição de 2004 e governo interino de unidade nacional

Assinado por governo e oposição, pacto inclui diversas reivindicações, após os confrontos que mataram ao menos 77

DIOGO BERCITO ENVIADO ESPECIAL A KIEV

Governo e oposição assinaram ontem, na Ucrânia, um acordo político para encerrar o ciclo de hostilidades no país. O pacto, mediado pela União Europeia, foi selado após os violentos confrontos durante a semana, em Kiev, com ao menos 77 mortos.

O ajuste formal inclui diversas das reivindicações populares, como o retorno em 48 horas à Constituição de 2004 e a formação em dez dias de um governo interino de unidade nacional. O pleito presidencial foi antecipado em alguns meses e deve ser realizado até o fim deste ano.

O recuo à Constituição é especificamente importante, porque reduz os poderes presidenciais em um país marcado pela concentração das decisões em poucas mãos.

"Não há passos que não devamos tomar para restaurar a paz na Ucrânia", afirmou ontem o presidente Viktor Yanukovich ao tornar públicas as suas concessões.

Respondendo também aos manifestantes da praça da Independência, legisladores votaram pela libertação da ex-premiê Yulia Tymoshenko. Detida há 30 meses, ela é acusada de abuso de poder em processo visto como fraudulento pela comunidade internacional, incluindo a Rússia.

A medida --resultado de uma emenda na legislação criminal-- ainda precisa ser assinada por Yanukovich, aliado da Rússia e rival político de Tymoshenko. Não está claro qual é o cronograma para que ela deixe a prisão.

O Parlamento votou também pelo afastamento de Vitali Zakharchenko, ministro do Interior, visto como um dos responsáveis pela repressão violenta dos protestos.

A votação foi realizada após a renúncia de dezenas de legisladores do governista Partido das Regiões, segundo a agência de notícias Interfax. Após as decisões, parlamentares cantaram o hino nacional ucraniano.

FUTURO INCERTO

Apesar de os líderes da oposição terem aceitado o acordo, há dúvidas sobre sua capacidade de encerrar os meses de crise no país, que nos últimos dias pareceu aproximar-se da guerra civil.

Ontem à noite, manifestantes pareciam ignorar as cláusulas do acordo político que estipulam esforço conjunto de governo e oposição para trazer de volta a normalidade à capital ucraniana.

Os embates violentos desgastaram os manifestantes nas ruas, que exigem a renúncia de Yanukovich. É difícil, por ora, estimar o futuro da praça da Independência.

Não está clara também a real influência dos líderes da oposição sobre a população que tomou a praça em novembro em repúdio à manobra política que aproximou a Ucrânia da Rússia, afastando-a assim da União Europeia.

Organizados e defendidos por barricadas, os manifestantes parecem funcionar como uma espécie de entidade independente no país.

Em vez de levantar suas barracas e deixar o centro de Kiev, opositores reuniam-se durante a noite para celebrar o hino nacional e fazer vigílias pelos mortos, carregando velas acesas. Em diversas ocasiões, durante o dia, a Folha testemunhou velórios públicos ao redor da praça.

"Não acreditamos nas propostas do presidente", diz a agente de viagens Natalia Tolok, 31. "Só vamos para as nossas casas quando Yanukovich for para a casa dele."

A opinião é repetida por dezenas de manifestantes, que repetem que o pacto oferecido por Yanukovich é uma "armadilha" para que deixem as ruas e sejam, então, vítimas da repressão.

As manifestações, ainda que com um pano de fundo complexo, incluindo uma economia fragilizada, fizeram do país campo de combate para as disputas geopolíticas entre Europa e Rússia --com aparente vitória europeia ontem, por meio da mediação dos chanceleres de Alemanha, Polônia e França.

A crise ucraniana preocupa também os EUA, que durante a semana pressionaram o governo de Yanukovich para que interrompesse a violência. Ontem, fontes na Casa Branca afirmavam que o presidente Barack Obama tinha planos de telefonar ao presidente russo Vladimir Putin para discutir o assunto.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página