Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Praça em Kiev mantém ambiente de cooperação após mortes

DO ENVIADO A KIEV

Natalia Zavidonova se desculpa com a reportagem da Folha por estar chorando ao ver os fogos de artifício que iluminam o céu de Kiev, no fim da tarde. "Perdoe as minhas lágrimas, mas não sei se meus amigos estão vivos."

A professora de economia, que vai há meses à praça da Independência levar comida aos manifestantes, procura entre os velórios saber se colegas de protesto estão entre os 77 mortos desta semana.

Zavidonova se recorda dos primeiros dias de protestos contra o governo, em uma praça que ainda não conhecia os embates violentos. "Eram reuniões boêmias, com leitura de poemas. Conversávamos sobre a nossa visão de futuro", conta.

Então vieram as forças de segurança, as barricadas e as dezenas de mortos --que não apagaram, porém, o ambiente familiar e cooperativo da praça, apesar dos dias de tristeza na sequência das mortes.

Manifestantes de todo o país se reúnem ali em uma comunidade de auxílio, e caixinhas recolhem doações para sustentar a estrutura.

"Não consigo ficar em casa", diz Irina Khmelevska, 47, que serve sanduíches e rosquinhas. "Trago comida para os que passam a noite aqui."

A algumas barracas dali, Mariana Onufryk varre o chão, no que parece uma tarefa ingrata --o solo está coberto por uma mistura escura, parte neve derretida, parte cinzas de pneus. "Não sou médica nem advogada. Não tenho armas e não consigo atirar. Vim limpar as ruas para os nossos heróis", diz.

Conforme as manifestações avançam, a praça vai se transformando em uma miniatura de cidade. Há os pequenos restaurantes, em que não se paga, e as cabanas políticas. Há depósitos de madeira para os geradores e fábricas de coquetéis molotov.

Mesmo com as restrições da polícia, que impede carros carregando materiais que podem se transformar em barricadas, os opositores mantêm os acampamentos funcionais, contrabandeando suprimentos necessários.

Yana Ginchuk montou uma farmácia em que remédios são doados por manifestantes --não é necessário ter receita ou pagar pelo serviço.

"O governo diz que somos terroristas", diz a professora Zavidonova, terminado o velório. "Mas somos pessoas normais. Esses garotos parecem ameaçadores, com bastões e máscaras. Mas é só para protegê-los."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página