Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Economia frágil agrava crise no país

Receio de calote e dívida alta fizeram com que governo recorresse à Rússia, provocando conflito com oposição

Estrutura industrial da era soviética e mercado de capitais pequeno atrapalham desenvolvimento

DIOGO BERCITO DO ENVIADO A KIEV

Por trás das barricadas das explicações políticas para a crise civil ucraniana, escondem-se a pouco evocada --mas ainda assim terrível-- situação econômica e o receio de o país declarar um calote.

As manifestações na praça da Independência foram iniciadas, em novembro, após o presidente Viktor Yanukovich interromper a aproximação do país com a União Europeia ao rejeitar um acordo com o bloco de 28 países.

Ele preferiu sua aliada Rússia, para onde exporta quase um quarto de sua produção nacional --e de onde vem a maior parte do gás que o país consome.

A escolha foi motivada não apenas pela política. Um mês depois, o governo do presidente russo, Vladimir Putin, anunciou um pacote de auxílio financeiro de US$ 15 bilhões (R$ 35,2 bilhões) para a ex-república soviética.

A Ucrânia viu suas reservas em moeda estrangeira caírem, em janeiro, para US$ 17 bilhões (o suficiente apenas para dois meses de importações), enquanto tem uma dívida externa, no curto prazo, de US$ 60 bilhões.

Desse valor, US$ 3 bilhões têm de ser pagos ao FMI (Fundo Monetário Internacional) durante o primeiro semestre.

Com uma indústria defasada, dependente de maquinário soviético, o país tem afugentado seus investidores internacionais, pessimistas quanto à economia local.

"Quem é que nos emprestaria dinheiro?", pergunta à Folha Ivan Verstyuk, editor-associado de finanças no jornal ucraniano "Kyiv Post".

"Se não recebermos um pacote de auxílio, provavelmente iremos à moratória em seis meses", ele estima.

O pessimismo é compartilhado por diversos analistas e entidades financeiras.

A agência de classificação de risco Standard & Poor's reduziu anteontem a nota de crédito da Ucrânia pela segunda vez em três semanas, citando um risco de calote, em parte um reflexo da instabilidade política no país.

A moeda ucraniana, chamada hrivna, teve queda de 8,5% em relação ao dólar desde o começo deste ano.

COMPETIÇÃO

Segundo Verstyuk, é falsa a explicação oficial para o cancelamento da aproximação com a União Europeia a partir da ideia de que os produtos ucranianos não estão prontos para competir no difícil mercado da Europa.

"Isso é um problema real, mas já exportamos aço e grãos, e a competição estimularia no curto prazo a modernização da economia."

Para o jornalista, o presidente Yanukovich foi pressionado pelos oligarcas dos setores de aço, bancos e energia, a quem é crucial a compra de gás a baixos preços.

Isso aumentou a dependência em relação à Rússia, que em dezembro reduziu os preços do produto como parte do pacote de auxílio.

Analistas apontam que afastar-se da Rússia e voltar a se aproximar da União Europeia pode trabalhar a favor da economia ucraniana.

Outros pontos que ajudariam o país a sair da crise seriam a negociação da dívida com o FMI e o estabelecimento de um governo com ministros de caráter técnico.

"O maior problema econômico no país é o clima para os negócios, com uma corrupção gigante e obstáculos para os investidores internacionais", afirma Yuriy Yaakoenko, CEO da Eavex Capital, de consultoria financeira.

O investimento na Ucrânia, diz, tem taxa de retorno baixa, com os altos custos para a proteção do crédito, além da burocracia. "O mercado de capitais é subdesenvolvido."

Os frequentes embates e o risco de guerra civil, além da instabilidade política crescente, também não auxiliam a situação financeira, com quedas na bolsa de valores e uma recente restrição oficial na movimentação de dinheiro rumo ao exterior.

"A economia ucraniana está doente", afirma Anton Teretyshnyk, gerente no setor financeiro. "Não somos uma república de bananas, mas precisamos recuperar a confiança externa de imediato."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página