Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Indicados para embaixadas dos EUA acumulam gafes

Nomes apontados por Obama mostram desconhecer língua e política de países

Candidatos contestados doaram para campanha à reeleição; indicações políticas superam as de diplomatas de carreira

ISABEL FLECK DE NOVA YORK

Juntos, eles arrecadaram mais de US$ 4,2 milhões para reeleger Barack Obama, em 2012. Agora, indicados para assumir as embaixadas dos EUA na Noruega, na Argentina e na Hungria, os doadores George Tsunis, Noah Mamet e Colleen Bell estão no centro de uma polêmica sobre os critérios para a indicação política de embaixadores.

Em comum, além da alta quantia levantada para Obama, os três demonstraram um perturbador despreparo para a função em suas sabatinas no Senado americano no começo deste ano.

Diante das gafes, a Associação Americana do Serviço Exterior (AFSA, na sigla em inglês) cogita apresentar na próxima semana ação contra a nomeação do trio --seria a primeira vez em mais de 20 anos que a entidade se opõe à indicação de embaixadores.

A associação também apresentou na terça um guia de quatro páginas com orientações para a escolha de chefes de missão. Entre elas, "experiência com o país [que receberá o embaixador] e conhecimento da cultura e do idioma", além de "saber defender os interesses dos EUA".

Os requisitos não seriam cumpridos por nenhum dos três. Tsunis, empresário do ramo imobiliário, além de citar o "presidente" da Noruega ""o país é uma monarquia parlamentarista--, chamou o Partido Progressista, que é anti-imigração, de grupo de "elementos marginais com um microfone para vomitar seu ódio". A legenda faz parte da coalizão do governo.

No mesmo dia, a produtora de seriados para TV Colleen Bell, que arrecadou US$ 800 mil para Obama, não conseguiu explicar aos senadores os interesses estratégicos dos EUA na Hungria.

A nomeação dos dois foi aprovada. A de Mamet, que admitiu nunca ter ido à Argentina nem ser fluente em espanhol em sabatina para assumir a embaixada, ainda não passou por votação.

No segundo mandato de Obama, as indicações políticas para embaixador superaram a de diplomatas de carreira: 53% a 47%. É a primeira vez que isso ocorre em 40 anos de levantamento da AFSA (veja quadro ao lado).

No caso do Brasil, a última indicação política para o posto de embaixador americano foi o empresário Clifford Sobel (2006-2009), apontado por George W. Bush.

RECOMPENSA

Para Andrew Nathan, professor da Universidade Columbia e colaborador da revista "Foreign Affairs", o aumento da parcela de indicações políticas pode ser fruto da "maior necessidade de recompensar os principais arrecadadores" de campanha.

O especialista considera que os embaixadores de fora da carreira diplomática podem estar mais suscetíveis a saias-justas. "Mas sempre terão o suporte de uma equipe do Departamento de Estado na embaixada", pondera.

O subsecretário de Estado para Relações Públicas, Doug Frantz, defende as indicações políticas e diz que o Departamento de Estado não vai mudar a maneira como trabalha.

"Alguns indicados cometeram equívocos nas sabatinas, mas isso ocorreu porque a quantidade de informação que eles têm de absorver antes de ir para esses países é esmagadora", disse Frantz à Folha. "Estamos procurando selecionar embaixadores da mais alta qualidade, sejam eles diplomatas de carreira, sejam indicações políticas."

Tom Korologos, indicado por Bush para ser embaixador na Bélgica entre 2004 e 2007, diz não culpar os indicados políticos pelas gafes no Senado ou, possivelmente, em seus postos. "Culpo o Departamento de Estado, porque você não envia um embaixador tão despreparado assim para uma missão."

Para ele, é preciso ter cuidado para o mau desempenho de alguns não resultar numa caça às bruxas entre indicados políticos. "Quem é de fora da carreira diplomática muitas vezes tem mais acesso à Casa Branca, o que pode facilitar seu trabalho [como ponte entre governos]."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página