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Violência do tráfico deve crescer no México

Prisão do megatraficante 'Chapo' Guzmán dará espaço a cartéis menos 'empresariais' e mais violentos, dizem analistas

Cartel comandado por Guzmán obtém 60% do lucro com drogas no país, onde a guerra ao tráfico já matou 60 mil

SYLVIA COLOMBO DE SÃO PAULO

Os EUA usaram alta tecnologia para construir grades nas fronteiras e impedir a entrada de drogas da América do Sul. "Chapo" Guzmán respondeu com estratégias arcaicas: fez mais de 150 túneis e uma rede de catapultas.

Os EUA fizeram acordo com o governo vizinho para rastrear narcotraficantes em território mexicano. Guzmán retrucou alistando criminosos americanos para seu cartel.

Por fim, os EUA dificultaram a saída de cocaína da Colômbia e do Peru. "Chapo" não se intimidou e começou a produzir drogas em grande escala no México mesmo.

A prisão de Joaquín "El Chapo" Guzmán, 56, por polícia e Exército mexicanos na semana passada foi alardeada como grande vitória do governo Enrique Peña Nieto.

O México enfrenta há oito anos uma batalha contra o crime organizado que já causou mais de 60 mil mortes.

O cartel de Sinaloa, do qual Guzmán era o líder, responde por mais de 60% dos lucros dos cartéis mexicanos. Distribui drogas nos EUA, na Europa, na Ásia e na Austrália, armou uma rede de narcoempresários e cooptou governos regionais. "É uma verdadeira empresa", diz à Folha o jornalista britânico Ioan Grillo, autor de "El Narco".

Para especialistas ouvidos pela Folha, a disputa entre cartéis rivais pelo espaço deixado por Guzmán deve aumentar. Além disso, o discurso bélico se fortalecerá, enfraquecendo as ainda débeis vozes que defendem a estratégia de legalizar as drogas.

"A violência aumentará, pois os outros cartéis são menos empresariais e mais sanguinários --Zetas, Jalisco e Cavaleiros Templários", completa Grillo.

São vítimas desses bandos os civis decapitados que se tornaram imagem recorrente. Além disso, Zetas e Templários também obtêm dinheiro extorquindo e sequestrando pessoas comuns.

"Sinaloa deve se diluir num bando de gangues dispersas, apesar de que seus chefes ainda controlarão os principais negócios", diz Malcolm Beith, autor de uma biografia de Guzmán ("The Last Narco: Inside the Hunt for El Chapo").

FIGURA MÍTICA

Para os mexicanos, Guzmán é figura mítica, mistura de herói e bandido. Apelidado de "Chapo" pela baixa estatura (1,65 m), nasceu num povoado pobre nas montanhas. Hoje, estima-se sua fortuna pessoal em US$ 1 bilhão.

Segundo a agência de drogas dos EUA, o cartel de Sinaloa lucra US$ 3 bilhões por ano exportando maconha, cocaína e metanfetamina.

Além dos túneis e catapultas, o cartel de "Chapo" possui aeronaves, submarinos e chegou a enviar drogas aos EUA em massa por meio de latas de feijão e por FedEx.

Casado com a rainha da beleza Emma Coronel, cidadã dos EUA, Guzmán teve suas gêmeas nascidas num hospital da Califórnia sem que a polícia pudesse fazer nada.

"As pessoas estão cansadas da violência e, se ele foi um ícone no passado, hoje querem que saia de cena", diz Beith. "Mas suas aventuras, obviamente, estão na boca do povo e ficarão como lenda."

Guzmán estava foragido desde 2001, quando escapou de uma prisão de alta segurança num carrinho de lavanderia, comprando os seus carcereiros.

Mesmo preso, tinha vida de rei. Chefiava as ações do cartel por celular, fazia festas, recebia mulheres.

Nos últimos anos, Guzmán entrou na lista dos milionários da "Forbes" e era visto em restaurantes em Sinaloa. Pagava a conta de todos os comensais em troca de que mantivessem celulares desligados enquanto ele jantava.

Não está definido o modo como Guzmán será julgado nem se a Justiça mexicana levará em conta os pedidos de extradição para os EUA. O assunto, porém, domina o noticiário e o debate no México.

"Peña Nieto precisa admitir que o problema do tráfico existe, senão ter prendido Chapo' perde a importância. Está nas mãos dele encaminhar o debate para uma solução real para o fim da violência no México", diz Grillo.


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