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FMI negocia ajuda para tentar salvar Kiev
Analistas dizem que país está 'quebrado' e precisa de US$ 35 bilhões nos próximos dois anos para pagar contas
Corrida aos bancos causou desvalorização de 30% da moeda local e consumiu reservas internacionais
Uma missão do FMI (Fundo Monetário Internacional) inicia hoje em Kiev as negociações com o governo da Ucrânia para um aporte bilionário. Os técnicos devem ficar no país até o dia 14.
O objetivo é permitir que a Ucrânia sobreviva ao rompimento com a Rússia, mantendo a estabilidade política.
Ontem, o presidente americano, Barack Obama, também pediu ajuda ao Congresso para viabilizar um pacote de ajuda à Ucrânia.
Especialistas estimam que o país precise de algo entre US$ 15 bilhões e US$ 35 bilhões para cumprir seus compromissos em até dois anos, já que está quase quebrado. A dívida externa ucraniana chega a quase 80% do PIB --mais de metade de curto prazo.
Uma corrida aos bancos provocou desvalorização de cerca de 30% na moeda local, a hrivna, desde novembro --18% neste ano. As reservas internacionais estão em US$ 16 bilhões, suficientes para dois meses de importações.
Em recente relatório sobre o país, os técnicos do FMI disseram que as "políticas econômicas geraram deficit expressivos e contribuíram para aprofundar a recessão".
O deficit em conta corrente (trocas com o mundo) bateu em 8% do PIB, e o deficit fiscal (gastos do governo menos arrecadação) está em 5%, mas sobe para quase 8% com o rombo das estatais.
A Ucrânia nunca se recuperou do impacto da crise global, que derrubou seu PIB em 15% em 2009. Nos últimos dois anos, o país não cresce. No ano passado, o PIB encolheu cerca de 1%.
O presidente deposto, Viktor Yanukovich, respondeu à crise com subsídios à energia e uma política fiscal frouxa, que impulsionou a inflação e a desvalorização da moeda. Ele, então, subiu os juros, mas os empréstimos caros aprofundaram a recessão.
A Ucrânia se aproximou ainda mais da Rússia, elevando a fatia de suas exportações para o país. Os russos vendem mais da metade do gás natural consumido pela Ucrânia a preços altos --só reduzidos recentemente em um pacote de ajuda.
Para analistas, a corrupção do governo da Ucrânia está na raiz dos problemas. Os magnatas ucranianos compram gás russo a preços controlados e vendem muito mais caro no mercado.
Os subsídios à energia chegaram a 7,5% do PIB em 2012 (dado mais recente), e as baixas tarifas encorajam um dos maiores consumos da Europa. Os técnicos do FMI recomendam ampla reforma do setor, em conjunto com mais desvalorização da moeda e um regime de metas de inflação.
"A Ucrânia teve um presidente que só se interessava por seu próprio enriquecimento e não podia se preocupar menos com a economia", disse à Folha Anders Aslund, especialista em política econômica da Europa Oriental do Peterson Institute, em Washington. Ele calcula a fortuna da família de Yanukovich em US$ 12 bilhões.
"A Ucrânia poderia ser um país rico, porque tem uma agricultura forte, mas os políticos querem comprar votos com subsídios à energia e distorcem o mercado", afirmou Richard Rahn, diretor do Instituto para o Crescimento da Economia Global.
Pelos cálculos dele, o PIB per capita da Ucrânia cresceu 65% nos últimos 10 anos, comparado com 239% da Polônia ou 131% da Hungria. Os ucranianos estão cientes do abismo que separa sua economia dos vizinhos.