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Colonos do vale do Jordão temem ser expulsos da região

Negociações para um acordo de paz entre Israel e palestinos incluem possível retirada de assentamentos na fronteira com a Jordânia

DIOGO BERCITO ENVIADO ESPECIAL AO VALE DO JORDÃO

Guil Rosenblum, 29, segura o filho com ambas as mãos. Com os pés, pisa na terra árida do vale do rio Jordão. Seu bebê veste uma camiseta com os dizeres "Made in Israel".

O jovem agricultor vive na região que seu pai escolheu há 30 anos para chamar de casa. Ali, a família planta pepinos. Caminhando por entre as estufas, Rosenblum diz ser apaixonado pelas montanhas amareladas ao seu redor e pela vida comunal, entre os 10 mil colonos no vale.

Mas esses israelenses assistem hoje, ansiosos, às negociações de paz entre seu país e os líderes palestinos, cientes de que um dos principais temas em discussão é o futuro de seus assentamentos, estratégicos para a segurança do Estado.

O argumento costuma ser o de que, sem o rígido controle israelense nessa área, ocupada em 1967, será fácil para terroristas penetrarem no restante do território. A Folha procurou o Exército, que se recusou a falar do assunto.

Mas, assim como o restante da Cisjordânia, essa região é considerada internacionalmente sob ocupação. Em um eventual acordo de paz, pode ter de ser entregue a um futuro Estado palestino.

Os colonos rejeitam a ideia, assim como têm recusado as sugestões do secretário de Estado americano John Kerry, que teria sugerido a retirada de civis dali.

"Bullying não funciona com as crianças na escola", diz Rosenblum. "Também não funciona com adultos."

O jovem mostra à reportagem as estufas e o solo que sua família enriqueceu.

"Os palestinos de Jericó diziam que não conseguiríamos plantar nada, aqui. O solo é uma merda, mas plantamos."

IDEOLOGIA

Uma possível retirada dos colonos do vale traz de volta ao público israelense as imagens de 2005 --quando o Exército esvaziou assentamentos na faixa de Gaza.

As regiões foram colonizadas, porém, por grupos distintos. Enquanto Gaza foi território de comunidades marcadas pela ideologia e pela religião, o vale do Jordão atraiu jovens como o pai de Rosenblum, que "queria começar uma vida nova" ali.

"É aqui que me sinto em casa", afirma Nimrod Waider. "Eu não tenho uma relação política com a terra."

Waider morava na Polônia quando um atentado terrorista vitimou seu pai e sua irmã. Ele voltou a Israel e, atraído pela calma da comunidade de Bekaot, abriu uma franquia da rede Café Café.

Ele diz que, apesar de discordar da necessidade de abrir mão do vale, aceitará qualquer decisão do governo. "O sionismo não é o que é conveniente para mim, mas o que serve ao país."

A saída do vale do Jordão desagrada, também, ao prefeito regional David Elhaiini, responsável pela administração de todo o território. "Quando o governo nos pediu para vir para cá, disse que essa terra seria israelense para sempre", afirma.

Na beira de uma ribanceira, Uri Cooper, 29, aponta as tâmaras que planta no fundo do vale.

Dali de cima, um ponto restrito controlado pelo Exército, é possível enxergar a falha tectônica que formou a região, pela qual serpenteia o rio Jordão. Do outro lado, as montanhas já se erguem na Jordânia.

Ele diz ter viajado ao redor do mundo, mas decidiu voltar à terra em que nasceu, o vale. "A agricultura é importante ao Estado. Temos de ter nossos produtos", diz.

Sua exportação, porém, flutua não só de acordo com a oferta e procura, mas também segundo a dinâmica de boicotes internacionais aos produtos israelenses provenientes de assentamentos.

Essa estratégia é adotada por vários países ocidentais, como uma maneira de pressionar Israel a assinar um acordo de paz.


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