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Em hotel de Pequim, parentes exigem respostas sobre avião

Famílias de passageiros de voo desaparecido criticam falta de informações

Pai de passageiro diz à Folha que funcionários da Malaysia Airlines 'continuam a mentir' sobre a investigação

MARCELO NINIO DE PEQUIM

Um salão no segundo andar de um hotel em Pequim tem concentrado emoções intensas nos últimos dez dias, que oscilam a cada boato ou notícia entre o desespero, a frustração e a esperança.

A portas fechadas, guardadas por cinco corpulentos seguranças, parentes de passageiros do Boeing-777 da Malaysia Airlines, desaparecido desde 8 de março, se reúnem diariamente para receber informações da empresa.

Mas há poucas respostas, e o sentimento predominante é de revolta. Após dias de buscas e investigações inconclusivas, a maioria está convencida de que a verdade lhes está sendo omitida.

O mistério virou um drama nacional e assunto de Estado na China. Dos 227 passageiros, 154 são chineses.

"Agora nos dizem que a investigação passou a ser criminal, mas não explicam o motivo. Continuam a mentir e a falar absurdos. Queremos respostas", disse à Folha Wen Wancheng, 63, cujo filho de 30 anos estava no voo.

Wen é um dos poucos que aceitam falar aos jornalistas, na fila de parentes cabisbaixos que deixa o salão após o encontro diário com representantes da empresa aérea.

Alguns aceitaram o convite da Malaysia Airlines e viajaram para acompanhar as investigações em Kuala Lumpur. Mas a maioria ficou.

Os ânimos se tornaram mais exaltados depois que as autoridades malasianas anunciaram uma virada na investigação, descartando a hipótese de falha mecânica ou erro humano para se concentrar nas evidências de que o avião foi desviado por alguém a bordo.

Para os parentes, embora a notícia renove a esperança de sobreviventes, também aumenta a sensação de que os investigadores não estão contando tudo o que sabem.

"Se tinham informações de satélites de que o avião foi desviado, por que não contaram? É um absurdo que nos deixem acompanhar tudo por boatos", disse um jovem parente, sem se identificar.

Ele conta que alguns parentes quase partiram para a briga com os funcionários da empresa.

As autoridades malasianas justificam a demora classificando o caso como "um mistério sem precedentes". Mas, no Hotel Lido, o mistério que intriga o mundo é sinônimo de angústia.

Wen reclama que, nos primeiros dias, as atualizações fornecidas pela Malaysia ficavam a cargo de funcionários envolvidos nas investigações. Nos últimos dias, porém, a empresa só mandou gente ligada à estada e assistência psicológica.

"Não estamos aqui para comer e dormir. Onde estão nossos parentes? Queremos respostas e justiça", diz Wen, quase gritando.

Enquanto cresce a revolta, o governo chinês, que mandou nove navios para as buscas, aumenta o tom das críticas à Malásia. Na imprensa estatal sobram alfinetadas contra a americana Boeing, fabricante do avião.

EM BUSCA DE CLIENTES

Entre o batalhão de jornalistas que fazem vigília no hotel, uma jovem de aparência chinesa e inglês perfeito se destaca. Discretamente, distribui seu cartão a parentes.

Keke Feng é advogada especialista em acidentes aéreos. Trabalha no escritório americano de advocacia MotleyRice, que a enviou a Pequim em busca de clientes.

"Meu primeiro conselho é não aceitar nenhum acordo com a empresa antes que as investigações sejam concluídas. A segunda é não falar com jornalistas", diz.


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