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Israel nega asilo a imigrantes africanos

Governo israelense diz que muitos vieram ao país apenas para buscar emprego, não por serem refugiados políticos

Centenas de pessoas aceitaram pacote de "partida voluntária" de R$ 7.000 para voltar a seus países de origem

DIOGO BERCITO DE JERUSALÉM

Perseguido pelo governo, Musa Abdulay, 30, decidiu deixar sua República Centro-Africana natal em 2008. Ele caminhou até o Chade, viajou de carro ao Sudão e ao Egito e cruzou o deserto do Sinai a pé rumo a Israel.

Foram cinco meses de trajeto para chegar até o Estado que ele havia escolhido como seu refúgio --para ser então rejeitado por um governo que se refere publicamente a imigrantes ilegais africanos como sendo "infiltradores".

Nos últimos meses, esses imigrantes, que se consideram refugiados políticos, têm travado nas ruas a disputa pela sua permanência ali.

Aos milhares, eles organizam manifestações e greves. Mas a insistência do governo em negar-lhes o asilo resultou em um número recorde de partidas. Em fevereiro, 1.705 deles deixaram Israel.

Proporcionalmente, porém, são poucos os que saíram do país --o número de imigrantes ilegais que entraram em Israel por meio da fronteira egípcia é de 53 mil.

Eles se concentram em comunidades próprias, a exemplo dos arredores da estação central de ônibus de Tel Aviv, e trabalham ilegalmente, com salários menores e direitos trabalhistas ausentes.

Assim, centenas deles aceitaram o pacote de "partida voluntária" em que o governo entrega o equivalente a R$ 7.000 para quem deixa Israel. Milhares vivem, hoje, em campos de detenção.

"O governo nos chama de infiltrados' para prejudicar a nossa imagem", diz Abdulay, parte de uma ONG de imigrantes. "Somos asilados'."

A questão desse grupo de imigrantes é tratada pelo governo israelense a partir do conceito de que nem todos eles são refugiados políticos.

"Alguns deles imigraram para trabalhar, e é importante separá-los daqueles que vieram pedir a nossa proteção", afirma Yonatan Jakubowicz, co-fundador do Centro Israelense de Política para a Imigração, em uma recente coletiva de imprensa.

DEMOCRACIA

Nascidos em países que os perseguem, em meio a conflitos civis e carências, esses refugiados enxergam em Israel a Terra Prometida de sua liberdade. "É o único país democrático na região", diz Mulugeta Tumuzgi, 25, que deixou a Eritreia e viajou por nove dias até chegar a Israel.

Mas o mesmo Estado que recebeu levas de imigrantes da Etiópia nos anos 1980 e 1990 se recusa a abrir os portões de sua demografia. Ilegal, Tumuzgi trabalha como cozinheiro por quase metade do salário de israelenses.

Nagmeldien Omer, 29, está em Israel há sete anos e diz já ter pedido o asilo em diversas ocasiões. Ele mostra à reportagem da Folha os formulários preenchidos e recusados. "Eles não se importam com os direitos humanos ou com a dignidade."

Apesar dos pedidos de asilo político, relatos sugerem que apenas dois imigrantes africanos conseguiram o status legal nos últimos meses.

Omer fugiu do Sudão ao ver seus amigos serem detidos, ou mortos, pela oposição ao governo. Voou ao Cairo; de lá, seguiu de carro e a pé a Israel, auxiliado por beduínos.

A passagem, que custou R$ 2.000, incluiu um mês de espera nas montanhas do Sinai. "Vi muitas coisas, incluindo pessoas mortas e mulheres estupradas. Não há paz na península do Sinai."

Ele trabalha hoje como garçom em um hotel, sem ter autorização, depois de abandonar seu sonho de estudar sociologia. "Eu já trabalhei em 15 lugares neste país."

Omer nota, assim como outros, que há diversos grupos em Israel que auxiliam refugiados africanos, incluindo partidos de esquerda e jovens, "que gostam de nós".

Mas Omer afirma que o país, como um todo, "é racista". "É difícil dizer que Israel é um país democrático."

A chancelaria israelense, em nota oficial, diz que "tenta balancear a necessidade de controlar as fronteiras com a de proteger os direitos humanos".


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