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Clóvis Rossi

O irresistível charme da Europa

Números explicam porque os ucranianos rejeitaram a Rússia e preferiram se associar à União Europeia

Virou pé de página, em consequência da crise na Crimeia, a assinatura anteontem da parte política do acordo de associação entre a Ucrânia e a União Europeia.

Pois foi o veto da Rússia a esse acordo que desencadeou os protestos que afinal levaram à defenestração do presidente Viktor Yanukovich, em fevereiro, e depois à anexação da Crimeia pela Rússia.

É fácil explicar por que uma parcela importante dos ucranianos olha para a União Europeia como a ponte para a prosperidade. Escreve Gerald Knaus, pesquisador do Carr Center da Universidade Harvard:

"Ao defender seu direito a ratificar um acordo de associação com a UE --e a perspectiva de uma integração mais profunda no futuro--, os ucranianos mantiveram aberto o mais promissor caminho, isoladamente, para um país pobre como o deles mudar seu destino".

De fato, a riqueza está na Europa, conforme demonstra uma coleção de tabelas publicadas no blog de Knaus. Ele listou os 46 países mais ricos do mundo em 2012, pela renda per capita. Critério usado para a comparação: só entram na lista os países que têm ao menos um oitavo da renda do mais rico, no caso a Noruega, com US$ 98.860.

Vinte e sete deles são europeus, se se incluir Luxemburgo e Malta, que, por terem menos de 1 milhão de habitantes, não entraram na lista, mas se qualificariam, e a Croácia, que só entrou um ano depois na União Europeia.

Ou seja, estão no topo do mundo rico todos os países da União Europeia, com exceção apenas da Bulgária e da Romênia, aliás ex-integrantes do bloco soviético.

Já a Rússia, a alternativa de associação para a Ucrânia, pena para entrar na relação. Ocupa apenas o 43º lugar (em 46, lembre-se), com US$ 12.700 de renda per capita, menos que Portugal.

Há mais detalhes que indicam a atração da Europa: nos dez anos transcorridos até 2012, só sete países conseguiram abrir caminho para o clube dos 46 ricos: dois Estados petrolíferos (Rússia e Venezuela), o Chile e quatro países europeus que se livraram da União Soviética (Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia).

O caso da Grécia é ilustrativo de como aderir à União Europeia é bom negócio: sua renda per capita em 1980, último ano antes da adesão, era de US$ 6.190. Em 2012, quase quatro vezes maior, apesar do retrocesso ocorrido entre 2010 e 2012 por causa da crise.

O paradoxal no cenário europeu é que, nos países que já fazem parte da União Europeia há mais tempo, há uma onda de desamor pela ideia de Europa.

Dá a sensação de que os europeus dos primórdios do clubão tinham a riqueza como direito adquirido. A crise, ao abalar essa convicção, provocou o desconforto visível a olho nu hoje em dia, mesmo em países, como a Espanha, que se beneficiaram muito da adesão.

Mas a Ucrânia é pobre demais para ter esse sentimento. Mais pobre que ela, na Europa, só Moldova, Geórgia e Armênia, não por acaso países que eram da órbita soviética.

P.S.: Dos Brics, só a Rússia está na lista dos 46 ricos. O Brasil, não. Nem a portentosa China.


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