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Conflito com mapuches afeta Bachelet

Na última década, os episódios de violência entre indígenas e brancos se multiplicaram na região Sul do país

Protestos de índios por novos legislação e benefícios têm incluído invasões de fazendas e incêndios de florestas

SYLVIA COLOMBO DE SÃO PAULO

Na madrugada do dia 4 de janeiro de 2013, o casal de latifundiários brancos Werner Luchsinger, 75, e Vivian McKay, 69, foi surpreendido durante o sono por um bando de 20 pessoas.

Luchsinger tentou reagir ao ataque e atirou contra os invasores. Mas a força destes se impôs. O casal, cravejado a balas, morreu enquanto sua casa vinha ao chão, após ser incendiada.

O crime brutal foi uma resposta a outro, a morte de um ativista indígena por um oficial de polícia. Matias Catrileo, 22, foi executado com um tiro nas costas em 2008, enquanto protestava contra uma ocupação ilegal de terras indígenas.

Catrileo é mártir do chamado "conflito mapuche", uma das principais pedras no sapato da presidente do Chile, Michelle Bachelet, que assumiu no dia 11. Na última década, aumentou em 70% a violência entre brancos e mapuches no Sul do país.

Os indígenas pedem uma nova lei de demarcação de terras e de proteção florestal, planos assistenciais e o fim de acordos que permitem multinacionais estrangeiras a construir hidrelétricas.

Os protestos ganharam tom violento, incluindo invasões e incêndios a áreas florestais. O governo conservador do presidente Sebastián Piñera, antecessor de Bachelet, passou a reprimir as manifestações aplicando a Lei Antiterrorista, promulgada em 1984, durante a ditadura.

"São penas duríssimas que estão aplicando contra nós, enquanto a polícia e o Exército que nos matam são tratados com mais complacência", diz à Folha o ativista mapuche Alfredo Seguel.

Na semana passada, o novo governo emitiu um pedido de desculpas ao povo mapuche pelos crimes históricos cometidos pelo Estado.

"É sinal de quanto esse problema é crucial para destravar a integração da sociedade e o crescimento das economias regionais", diz o analista político Guillermo Hollzmann, da Universidade do Chile. Para ele, o conflito vai além da questão da soberania da população indígena, pois revela uma ineficiência do Estado de fazer com que os bons índices econômicos se reflitam em melhoria de vida em todo o território.

"Os habitantes da Araucania estão entre os mais pobres do país. No Chile, o índice médio de pobreza é de 15%, na Araucania, é o dobro (30%)", diz o professor Claudio Fuentes, da universidade Diego Portales.

Os mapuches (conhecidos também como araucanos) vivem no sul do Chile e no sudeste da Argentina desde por volta do ano 600 a.C. Sua população total, hoje, corresponde a 1,6 milhão de pessoas. O conflito com o homem branco começou durante a colonização, mas acirrou-se após a independência do Chile (1818), com diversas tentativas bélicas do novo estado nacional chileno de "pacificar" e colonizar a região.

"Nenhum governo foi eficiente em chegar a um consenso com os mapuches desde então", afirma Fuentes.

O especialista compara as ações com a de outros países. "O México tem 11% de povos originários na população, mais ou menos como nós, e possui uma tradição histórica de leis reparatórias."

"Hoje 70% dos mapuches vivem em cidades, querem ter mais participação política. Nossa causa ganhou novas cores", diz Seguel.


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