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Clóvis Rossi

Protesto e voto, nada a ver

Eleição turca reforça a impressão de que as grandes manifestações não têm paralelo no voto

Conclamação de Elena Valenciano, cabeça de chapa do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) para as eleições europeias de maio: "Não basta indignar-se, é preciso votar e ganhar".

Contexto: Valenciano está, na prática, fazendo um apelo à massa de "indignados" que tomaram as ruas da Espanha no ano passado, movimento de resto imitado em incontáveis outros países (Brasil inclusive), mas com nulos resultados do ponto de vista eleitoral.

A massa nas ruas só provocou mudanças em alguns poucos lugares. No Egito de Hosni Mubarak, na Tunísia de Ben Ali, na Ucrânia de Viktor Yanukovich. Os três caíram, mas foi praticamente no ato, enquanto as multidões estavam nas ruas. Quando refluíam, nada acontecia.

Ou, como escreveu para "El País" Moisés Naím, que já foi colunista da Folha: "Há uma grande desproporção entre a formidável energia política que vemos nas manifestações e seus poucos resultados práticos".

Vale para a Espanha, vale para o Brasil e, no mais recente e expressivo exemplo, vale para a Turquia.

Quem viu a imponente massa que ocupou as ruas das grandes cidades em maio do ano passado só poderia acreditar que o governo, conduzido pelo primeiro-ministro Recep Tayyp Erdogan, seria surrado em grande estilo na primeira oportunidade em que a Turquia votasse.

Afinal, os protestos começaram para defender um parque central que seria devastado por uma reforma de discutível gosto urbanístico, mas logo se tornaram uma campanha pela renúncia de Erdogan.

Ainda por cima, depois vieram denúncias de corrupção envolvendo, entre outros, o filho do premiê, e, mais recentemente, uma tentativa de bloquear o Twitter e o YouTube, o que só poderia escandalizar os manifestantes de maio passado, que se mobilizavam exatamente pelas redes sociais, agora perseguidas.

Nada disso foi suficiente para que o eleitorado desse as costas para Erdogan, há 11 anos no poder, durante os quais conquistou por três vezes a maioria absoluta dos votos.

O premiê fez questão de transformar as eleições locais de domingo em um plebiscito a respeito de sua gestão. Ganhou, e com uma porcentagem de votos (44%) superior aos 39% que obtivera nas municipais anteriores, em 2009.

Seu partido, o islamita moderado Justiça e Desenvolvimento (AKP da sigla turca), levou ainda as prefeituras das duas principais cidades, Istambul e Ancara.

A interpretação que Erdogan deu ao resultado: "O povo me inocentou nas urnas" (não por acaso um argumento parecido com o usado por alguns petistas para se referir às eleições pós-mensalão).

O que acontece com os "indignados" de qualquer nacionalidade que não conseguem traduzir em votos o que Naím chama de "formidável energia política"?

No caso da Turquia, parece claro que há um divórcio entre os setores urbanos modernos e conectados e as massas conservadoras e tradicionais apoiadoras do AKP.

E no caso do Brasil? Minha impressão: não surgiram lideranças capazes de empolgar a turma que inundou as ruas em junho passado.

crossi@uol.com.br


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