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Alexandre Vidal Porto

Só muda se ela mudar

As mulheres japonesas não parecem dispostas a alterar o status de inferioridade a que são submetidas no país

Em Tóquio, a hora do almoço pertence às mulheres. Expliquei isso ao amigo que estranhou sermos os únicos clientes homens do restaurante em que estávamos. Aqui, não há programa mais clássico para uma mulher que almoçar com as amigas. Até os menus mudam na hora do almoço e passam a incluir "Lady's Set", com opções específicas para o público feminino.

Esse privilégio pode parecer algo positivo, mas não é. Ao contrário: é uma consequência negativa da pequena participação da mulher na economia japonesa.

As mulheres estão subrepresentadas nas posições de chefia nos setores privado e público. Apenas 4,5% das diretoras de empresas são mulheres. Entre os deputados, só 8% são do sexo feminino.

O mundo corporativo japonês é masculino: foi criado por homens para homens. Sua cultura é conservadora: não favorece o aumento da participação feminina. As peculiaridades das funcionárias são ignoradas, sobretudo no que diz respeito à maternidade. Para competir em igualdade, a grande maioria deve optar entre a vida familiar ou o sucesso na vida profissional.

Conciliar as duas é quase impossível: 70 % das japonesas deixam o emprego temporária ou definitivamente depois que têm um filho.

Essa falta de flexibilidade é contraproducente do ponto de vista econômico. Ao forçá-las a funcionar como homens, as empresas prejudicam o potencial da contribuição dada pelo contingente feminino. Segundo a Goldman Sachs, caso as mulheres participassem da força de trabalho nas mesmas proporções que os homens, o PIB japonês aumentaria cerca de 15%.

No entanto, o status inferior da mulher no ambiente de trabalho não tem evolução substancial há décadas. Em 2003, o premiê Junichiro Koizumi prometia a mesma meta de participação feminina em posições de liderança que Shinzo Abe, dez anos depois, propôs.

Apenas 63% das japonesas têm ou procuram emprego. As demais 37% não têm nem procuram trabalho remunerado fora de casa. Assim, têm mais tempo para almoçar com as amigas.

É um dos piores índices entre os países industrializados. O problema é que esse desequilíbrio não para aí. Ele se reproduz em todas as interações sociais. Não causa surpresa, portanto, que dois terços das mulheres jovens já tenham sido vítimas de comportamento sexual abusivo nos metrôs de Tóquio. Existe até um termo para isso: chikan.

O premiê Abe declaradamente quer aumentar a participação da mulher na vida econômica, mas as resistências culturais são fortes. As empresas não querem mudar, e, de acordo com pesquisa, mais de 50% das mulheres jovens querem mesmo é um marido que as sustente.

Por isso, não dá para ter pena dessas mulheres que inundam os restaurantes na hora do almoço. A verdade é que a maioria delas prefere ficar em casa.

Ignoram que o trabalho e a responsabilidade social fortalecem as mulheres e que encoxador de trem --em Tóquio ou em São Paulo-- tem medo de mulher forte.


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