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Violência marca véspera de eleição afegã

Policial mata a tiros fotógrafa alemã da Associated Press que acompanharia pleito presidencial, marcado para hoje

Repórter canadense fica ferida no ataque; país terá 1ª transferência democrática de poder em sua história

PATRÍCIA CAMPOS MELLO DE SÃO PAULO

Na véspera da eleição presidencial no Afeganistão, uma fotógrafa da Associated Press foi morta e uma repórter da mesma agência ficou ferida num ataque na província de Khost, perto da fronteira com o Paquistão.

A fotógrafa alemã Anja Niedringhaus, 48, e a repórter canadense Kathy Gannon, 60, estavam no banco de trás de um carro estacionado. Elas cobriam preparativos para a eleição. Segundo o jornal "The New York Times", um policial afegão se aproximou, olhou para o banco de trás, gritou "Allahu Akbar " (Deus é o maior) e abriu fogo com um fuzil AK-47.

Anja morreu na hora, com ferimentos na cabeça. Até a conclusão desta edição,Kathy estava internada em estado estável. O Taleban não reivindicou autoria do atentado. Acredita-se que o policial tenha agido isoladamente.

O ataque é mais um capítulo de uma onda de violência às vésperas das eleições. Nos últimos dois meses, mais de 50 pessoas foram mortas pelo Taleban, na maioria estrangeiros. Entre os mortos, dois outros jornalistas.

Cerca de 12 milhões de afegãos estão habilitados a votar hoje, mas espera-se baixo comparecimento, por causa das ameaças do Taleban. Os extremistas declararam guerra contra a eleição, que consideram um embuste bancado pelo Ocidente.

Esta será a primeira transferência democrática de poder da história do Afeganistão. Hamid Karzai lidera o país desde 2001, quando os EUA invadiram o Afeganistão após os atentados de 11 de setembro --o Taleban abrigava membros da Al Qaeda. Karzai presidiu interinamente no início, foi eleito em 2004 e reeleito em 2009.

Seja quem for o vencedor, Karzai não deve perder sua influência. Ele está construindo uma casa bem perto do palácio presidencial em Cabul e se aproximou dos três principais candidatos.

O tímido médico Zalmai Rasoul, ex-chanceler, é tido como o candidato de Karzai --ele teve 12,4 % das intenções de votos em pesquisa feita pela consultoria ATR na semana passada. Ashraf Ghani, tecnocrata oriundo do Banco Mundial, obteve 27,1%. E Abdullah Abdullah, o carismático candidato de etnia tadjique que ficou em segundo em 2009, obteve 24,6%.

Além das ameaças do Taleban, outro temor são as fraudes eleitorais. Por causa da insegurança, a maioria dos observadores estrangeiros deixou o país. "Se houver fraude disseminada na eleição, há o perigo de instabilidade no país", disse à Folha Shahmahmood Miakhel, diretor do United States Institute of Peace no país.

Quase todos os candidatos têm apoio de algum "senhor da guerra", que são chefes de milícias. Ghani, considerado o candidato mais "moderno", tem como vice Abdul Rashid Dostum-- a quem descreveu, em 2009, como "notoriamente um assassino";

"Infelizmente, para os afegãos, trata-se de escolher entre os ruins e os piores", afirmou M. Shafiq Hamdam, da Rede Afegã Anticorrupção.

Karzai tem sido uma pedra no sapato dos EUA. Washington vai retirar suas tropas do Afeganistão até o fim do ano.

No entanto, Karzai se recusou a assinar um acordo de segurança para definir a permanência de um contingente residual, que ajudaria a coordenar a transição.

Irritado depois que os EUA apontaram fraudes eleitorais em 2009, Karzai, um crítico dos ataques de drones no país, chegou até a apoiar a anexação da Crimeia pela Rússia. Nesse ponto, os problemas dos EUA devem diminuir: todos os candidatos apoiam o acordo.

De qualquer maneira, o resultado não deve sair logo. "Espera-se um segundo turno", disse à Folha Abdullah Ahmadzai, ex-presidente da Comissão Eleitoral Independente do Afeganistão. Se isso ocorrer, os afegãos voltam às urnas em 28 de maio.


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