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Escola de líderes chineses preza eficiência

Academia é versão do século 21 da tradição do Partido Comunista de dar formação doutrinária a seus integrantes

'Objetivo é ensinar aos líderes métodos de gerência moderna', diz dirigente; dez brasileiros já estudaram no local

MARCELO NINIO ENVIADO ESPECIAL A XANGAI

A arquitetura arrojada da Academia de Liderança Executiva da China parece um monumento ao tamanho de sua ambição: incorporar as lições da administração moderna ao desenvolvimento chinês, mas sem perder a ideologia marxista jamais.

Um lago com patos e cisnes completa a harmonia do campus criado pelo Partido Comunista chinês em Pudong, emergente área financeira e comercial de Xangai.

Não há retratos de Mao Tse-tung à vista. O culto é à eficiência. O ambiente "clean" é configurado para realçar a ideia de modernidade.

De funcionários de nível médio a chefes de alto escalão, a escola chamada Celap (na sigla em inglês) já treinou cerca de 100 mil alunos desde a abertura, em 2005.

É o topo do partido, que tem 85 milhões de membros.

SÉCULO 21

A academia em Xangai é a versão século 21 de uma antiga tradição do PC chinês: a formação doutrinária de quadros. E é considerada a segunda mais importante entre as cinco escolas do PC, atrás apenas da Escola Central. A diferença é que nela a teoria abre espaço para a prática.

"O objetivo é ensinar aos líderes métodos de gerência moderna e lhes dar uma perspectiva internacional", diz Feng Jun, vice-presidente da Celap. Ele não vê contradição entre manter-se fiel ao marxismo e ter como modelo centros de ensino estrangeiros, como a americana Harvard Kennedy School e a francesa ENA (Escola Nacional de Administração).

Para colocar os quadros do partido com a mão na massa, são feitas simulações de situações reais. Ou quase.

Um dos laboratórios reproduz um estúdio de TV, onde os funcionários enfrentam perguntas agressivas de jornalistas. Situação extrema, mas que já não é mais ficção.

A imprensa é controlada pelo Estado, e jornalistas têm pouco espaço para questionar o governo central --mas há pressão em temas locais, que caem sobre os governos de províncias e cidades.

Um dos professores, Wu Tao, 33, explica que as simulações visam preparar os funcionários para lidar com situações de crise, como catástrofes naturais, acidentes industriais e distúrbios sociais.

Embora as aulas passem obrigatoriamente pelos cânones do ensinamento vermelho, incluindo Mao, Marx e Deng Xiaoping, há certo desapego a jargões comunistas.

"Pegamos crises reais e tiramos lições", diz Wu.

Um dos exemplos é o rápido pedido de desculpas feito pelo McDonald's após a descoberta de comida vencida em suas lojas, em 2012.

O cardápio de programas é variado; vai de planejamento urbano a proteção ambiental e mercado financeiro. Dura entre uma e três semanas. O preço é salgado: 2.000 yuans (R$ 720) por dia, sem comida e hospedagem.

Além de abordar os grandes temas, os professores também dão dicas de conduta e até vestuário para evitar constrangimentos.

Numa das aulas, é exibida a caricatura de uma autoridade que caiu em desgraça em 2012. O motivo: fotos dele sorridente, usando um relógio de luxo ao visitar o local de um grave acidente ferroviário. A imagem causou furor nas redes sociais.

Mais de 4.000 estrangeiros passaram por treinamentos. Entre eles dez brasileiros do BPC (Brics Policy Center), centro de estudos gerido pela PUC do Rio.

Em 2010, eles ficaram três dias na escola, e o programa incluiu aulas sobre economia e a experiência chinesa em desenvolvimento urbano.

DOUTRINA E TÉCNICA

Fabiano Mielniczuk, ex-coordenador de pesquisa do BPC e diretor da Audiplo, plataforma on-line de relações internacionais, se impressionou com a estrutura do local.

O teor doutrinário é claro, diz ele, mas caminha ao lado de "elevados" níveis de conhecimento técnico. "A ideia é que a eficiência na alocação de recursos pode ser alcançada por meio de planejamento, e não necessariamente está associada ao mercado", disse o professor, por e-mail.

Projeto do arquiteto francês Anthony Bechu, a impactante estrutura vermelha que abriga a escola foi desenhada para parecer uma mesa de estudo da dinastia Ming, ao lado de um prédio que seria um porta-lápis.

O nome da rua onde fica o campus foi escolhido a dedo: "Estrada da Expectativa".


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