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Marcos Caramuru de Paiva

Reformar ou crescer, dilema chinês

Reformar é esforço pesado, que afeta o desempenho econômico; para o governo, gerar vagas é mais urgente

A bandeira do novo governo chinês continua a ser a realização de reformas estruturais. Os governantes fizeram do discurso das reformas um verdadeiro mantra, numa óbvia tentativa de convencer os correligionários no partido de que, sem elas, a saúde de longo prazo da economia estará em risco. Não é fácil.

A bandeira reformista também responde aos mercados. A alta cúpula governamental parece ciente de que as dúvidas sobre o endividamento público, o papel das estatais, a saúde do sistema financeiro e o crescimento do "shadow banking" nunca foram tão fortes. O primeiro-ministro Li Keqiang as reconheceu durante o Congresso Nacional do Povo, em março.

O problema é que, como disse um editorial do "China Business News" desta semana, reformar é um esforço pesado, que afeta o desempenho econômico. E a geração de empregos, na visão governamental, tem maior urgência.

O dilema entre reformar e promover o crescimento é o grande nó da agenda chinesa. No tempo em que a China crescia a dois dígitos, era relativamente simples fixar uma meta e superá-la com folga. Agora, a realidade é mais complexa. Chegou-se ao número para 2014, 7,5%, "considerando o que é necessário e o que é possível", segundo o premiê. Ninguém espera que a realidade supere as expectativas. Ao contrário, o risco é não chegar lá.

Há cerca de um mês, divulgou-se que 22 das 31 províncias chinesas reduziram suas metas de crescimento. Nas discussões com os governos locais, o Executivo federal aceitou metas mais modestas contra o compromisso de reestruturação.

Na semana passada, o governo agiu na direção oposta. Aprovou pacote de 1,1 trilhão de yuans voltado a reduções tarifárias para micro e pequenas empresas, desenvolvimento de áreas urbanas degradadas e mais investimento em ferrovias.

O recurso ao investimento ferroviário tem sido recorrente. Há um deficit de linhas modernas nas partes central e ocidental da China. Além disso, a gigantesca máquina ferroviária construída nos últimos anos está à espera de novas demandas. Para ter uma ideia, só as duas grandes produtoras de vagões, a CSR e a CNR, têm, juntas, 43 subsidiárias espalhadas pelo país.

Talvez a reforma mais difícil que o governo chinês tenha a enfrentar seja a redução e o disciplinamento das estatais. Elas operam com vantagens no acesso ao financiamento, baixa transparência e benefícios generosos para os funcionários, como cartões de compras e viagens ao exterior, que passaram a ser vistos como direito adquirido.

Enquanto o governo mantiver a política de metas de crescimento, no entanto, as estatais seguirão fortes e resistirão às mudanças. Mesmo que o discurso governamental fale na construção de uma economia dominada crescentemente por padrões de mercado.

A China ainda está à cata das fórmulas para resolver suas equações complexas. Os dirigentes precisam de tempo, criatividade e capacidade de persuasão. Não há como gerar uma motivação positiva para mudanças difíceis. A única solução é enfrentar os custos. E para isso, talvez, os chineses ainda não estejam preparados.


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