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IBGE ajuda Costa do Marfim em censo

Instituto envia computadores de mão que foram usados em pesquisas no Brasil e exportados para Haiti e Senegal

País faz 1ª contagem após guerra civil; êxodo para capital e imigração devem ser verificados após coleta de dados

RAFAEL ARAUJO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM ABIDJÃ (COSTA DO MARFIM)

A Costa do Marfim realizará neste ano seu primeiro censo populacional desde a guerra civil de 2008, usando tecnologia brasileira.

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) emprestou cerca de 20 mil computadores de mão, que foram usados para fazer a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) entre 2006 e 2010.

O uso dos aparelhos foi acertado em visita do chanceler do país, Charles Koffi Diby, a Brasília, em fevereiro. Os equipamentos foram levados para a Abidjã em março, após serem usados no censo do Senegal.

A coleta de dados levará quatro semanas e os primeiros resultados devem sair em três meses. Com a ajuda do Brasil, o país economizará US$ 4 milhões que seriam usados para comprar equipamentos similares.

Os aparelhos brasileiros foram escolhidos por se adaptar melhor ao uso em condições extremas, como calor, umidade e quedas. Para evitar roubos e furtos, eles serão programados com uma chave de bloqueio.

As informações inseridas pelo recenseador são criptografadas e só podem ser acessadas por meio de senha. Em localidades com cobertura de rede 3G, a transmissão dos dados será feita online.

Os recenseadores da Costa do Marfim também terão acesso a carregadores movidos a energia solar, usados pelo Senegal nas regiões sem rede elétrica. Além dos dois países, o Haiti já havia usado o equipamento.

GUERRA CIVIL

Este será o primeiro censo da Costa do Marfim em 15 anos. A última contagem da população deveria ter sido realizada em 2008, mas o trabalho foi inviabilizado pela instabilidade política pela qual passava o país.

O norte marfinense havia se rebelado contra o presidente Laurent Gbagbo, o que provocou uma guerra civil que terminou em 2011, com a intervenção da França e a retirada do ex-chefe de Estado.

A divisão provocada pela revolta imobilizou o país. Na primeira etapa do censo, registrou-se uma migração para a região de Abidjã e para o sudoeste do país. O norte e o oeste, palcos dos combates, foram esvaziados.

O chefe do departamento de demografia e estatística do INS Lucien Kouassi explica que muitos dos migrantes não querem voltar para as antigas áreas conflagradas. "Até mesmo servidores públicos designados para região norte, relutam em levar suas famílias", afirma.

Com taxa de crescimento anual de 5,4% no último censo, estima-se que a região metropolitana de Abidjã concentre atualmente 6 milhões de habitantes de um total de 23 milhões em todo o país.

Já o sudoeste atraiu os agricultores, que avançaram para a última região virgem da Costa do Marfim, ainda com várias reservas florestais.

IMIGRAÇÃO

Pano de fundo das disputas pelo poder dos últimos anos, a imigração também é um dos principais temas do censo deste ano. O relatório de 98 já comentava sobre como a vinda de estrangeiros virou um problema.

O país recebeu um grande fluxo de estrangeiros desde a independência, em 1960. Na década de 1990, porém, a crise no preço das commodities e a pressão demográfica aumentaram os conflitos agrícolas graves.

Na época, um em cada quatro habitantes era estrangeiro, metade filhos de imigrantes nascidos na Costa do Marfim. A xenofobia foi exacerbada pelas disputadas eleitorais.

Sob a alegação de ser filho de estrangeiro, a candidatura de Alassane Ouattara, o atual presidente, foi impugnada nas eleições de 2000 e o partido dele boicotou a votação.

Durante a guerra civil de 2011, as pessoas do norte, considerados opositores ao governo, foram perseguidas. Eram chamados de forma pejorativa de "dioula", a língua falada no Burkina Faso.

O censo ganhou atenção da imprensa internacional, já que os resultados definitivos devem sair exatamente um ano antes das eleições presidenciais, previstas para novembro de 2015.

O último pleito, que elegeu Alassane Ouattara presidente, foi contestado por partidários de Laurent Gbagbo e culminou numa guerra civil sem precedentes no país.

Com apenas 5,7 milhões de eleitores inscritos, o detalhamento de habitantes por unidade administrativa pode dar a legitimidade que o processo eleitoral precisa.

O diretor geral do INS Ibrahima Ba nega qualquer conotação eleitoral. Ele foi orientado a encontrar representantes de todos os partidos políticos para neutralizar qualquer tipo de especulação.

Sobre questões sensíveis como nacionalidade, etnia e religião, ele afirma que "todas as perguntas são feitas na Costa do Marfim, ao contrário de outros países".

"Se você é marfinense, tem que dizer de que etnia pertence. Parece-me que são mais de noventa. E dizer a religião que pratica e a nacionalidade. Se as pessoas interpretam isso com má fé, esse é outro assunto".

RECENSEADORES

O censo também servirá de base para a criação de um registro nacional de identidade. Até o fim do ano, cada marfinense terá um número único, como o CPF no Brasil.

Ibrahima Ba acredita que essa é uma questão fundamental, "existem muitas pessoas que não têm certidão de nascimento. Queremos saber quantos são". Em 2008, eles identificaram 700 mil pessoas sem registro civil. "Imagine com a crise, quantas crianças deixaram de ser registradas".

Quase 30 mil pessoas vão trabalhar no censo marfinense entre recenseadores, chefes de equipe e técnicos de informática. Os recenseadores foram contratados junto às comunidades em que farão as visitas para reduzir o custo de transporte, mas também porque falam a língua local.

Um recenseador receberá cerca de US$ 200, quase dois salários mínimos. Com uma alta taxa de desemprego entre jovens, a seleção para recenseador teve 100 mil candidatos para 23 mil vagas.


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