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Clóvis Rossi

Quando usar a força é grátis

Putin usa seus instintos de ex-KGB para submeter uma Ucrânia sem força e legitimidade de se opor

Vladimir Putin usou a força, por interpostas pessoas, para tirar a Crimeia da Ucrânia. Foi grátis, a menos que alguém leve a sério as sanções adotadas pelos Estados Unidos e pela Europa.

Agora, repete o cenário em cidades do Leste ucraniano. Vai sair grátis de novo.

Vale o que escreve Patrick Johnson, colaborador do "site" Geopoliticalmonitor:

"O governo em Kiev [a capital ucraniana] é uma edificação apodrecida, tanto econômica como politicamente, e carece da legitimidade necessária para usar a violência contra os rebelados no leste, por mais que as ações destes sejam uma traição. Sem uma ação decisiva de Kiev, o movimento de protesto no leste continuará a se disseminar".

Ontem, as autoridades ucranianas deram o mais claro sinal de que não estão em condições de adotar "uma ação decisiva": requereram às Nações Unidas tropas para enfrentar o levante na sua parte oriental, sabendo perfeitamente que a ONU só poderia atender o pedido se o Conselho de Segurança o aprovasse, o que é impossível porque a Rússia tem poder de veto --e o usaria.

Parece claro, pois, que é correta a análise de John Lough do programa Rússia e Eurásia da Chatham House, centro britânico de análises e pesquisas: "Os líderes ocidentais precisam entender que estão lidando com uma líder russo mais focado nas suas metas na Ucrânia do que nos riscos envolvidos em alcançá-las".

Só discordo de que haja de fato riscos envolvidos: se o Ocidente descarta, como o faz reiteradamente, o uso da força para responder às ações de Putin, não há perigo para o presidente da Rússia, na medida em que as sanções mal fazem cócegas.

Na verdade, as próprias ações é que trazem algum risco, não a reação do Ocidente. Basta saber que tanto a Bolsa de Moscou quanto o rublo caíram ontem, pelo medo de que a crise russo-ucraniana chegue a um ponto de ebulição.

O líder russo com o qual estão lidando os ocidentais "provavelmente possui todas as qualidades que foi treinado para ter como agente da KGB: crueldade e arrogância", escreve Alexander Motyl, professor de Ciência Política na Universidade Rutgers (Newark).

Um comandante empenhado em restaurar um mínimo do império que a Rússia já foi.

Por isso, desestabiliza a Ucrânia para disputá-la à União Europeia, em favor da qual houve o levante de meses atrás que levou à queda do presidente pró-Rússia Viktor Yanukovich.

Na prática, Putin luta apenas por pedaços da Ucrânia (a Crimeia e a parte oriental do país), já que o restante definiu-se, na rua, pela aliança com a Europa.

O que é curioso é o apoio que certos setores esquerdistas no Brasil parecem dar a Putin pela simples razão de que ele se opõe aos Estados Unidos.

Putin é um reacionário, contrário à liberdade de culto, à igualdade de gênero, aos direitos das minorias sexuais. Seus admiradores na Europa são o que há de pior, ao menos do meu ponto de vista: os neonazistas do Jobbik húngaro e do grego Amanhecer Dourado, por exemplo.

Pobre Ucrânia, em que parte dos anti-Rússia são também fascistóides.


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