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Análise Turquia

Problemas colocam 'modelo turco' na berlinda

Governo, que até há pouco tempo era apontado como exemplo para os países árabes, hoje é acusado de autoritarismo

ELENA LAZAROU ESPECIAL PARA A FOLHA

Em mais um episódio da saga política que trouxe a Turquia para as primeiras páginas da mídia internacional, a Corte Constitucional do país declarou na sexta-feira parte da reforma judiciária do primeiro-ministro Recep Erdogan inconstitucional.

A reforma teria dado ao governo maior controle sobre a nomeação de promotores e juízes. Isto ocorre apenas alguns meses após a explosão de escândalos de corrupção envolvendo alguns dos principais aliados de Erdogan.

Este é apenas o último de uma série de eventos que desafiaram o premiê turco desde junho passado, quando amplos protestos populares contra a natureza autoritária do governo estouraram.

A estes seguiram-se numerosas acusações de corrupção e a ruptura entre o primeiro-ministro e o influente pregador islâmico Fettullah Gülen e sua rede --que já foram influentes aliados de Erdogan.

Como reação, o premiê baniu o uso do Twitter e do Facebook no país.

Dentro da Turquia e ao redor do mundo, esses eventos levaram a profundas reavaliações do "modelo turco", que havia sido visto como um possível exemplo nos momentos que se seguiram à Primavera Árabe.

Também abriram uma série de questões acerca da própria natureza do líder turco.

Aclamado como arquiteto da política econômica que tirou o país da situação na qual se encontrava no início dos anos 2000 e da política externa que o promoveu a potência mediadora regional e Estado com presença global, Erdogan recebeu abundantes elogios durante dez anos de governo.

Contudo, críticas ao governo, visto como cada vez mais conservador, autoritário e paternalista, crescem de maneira contínua, e os recentes banimentos de mídias sociais revigoraram os discursos que apontam para a natureza antidemocrática das decisões do Executivo.

Apesar de tudo, as eleições municipais realizadas apenas duas semanas atrás deram ao partido do governo uma vitória inquestionável, com percentagens mais elevadas do que as das últimas eleições municipais, em 2009.

Enquanto as demandas dos manifestantes --menos conservadorismo, mais liberdade, menos imposições do governo na vida cotidiana-- tinham o governo e o premiê como alvos, a ausência de oposição confiável e inovadora limitou as opções.

Mas por quanto tempo este situação perdurará? Neste momento, a oposição entre secularistas e islamistas está mais forte do que nunca. As queixas dos manifestantes foram revigoradas, enquanto a Corte Constitucional está demonstrando preocupações crescentes com relação às ações do governo.

Em meio a este cenário politica e socialmente instável, é difícil prever se a desejada prosperidade econômica pode ser assegurada.

Em agosto a Turquia vai eleger seu presidente e, enquanto as questões de democracia e direitos humanos talvez tenham sido deixadas em segundo plano no pleito local, a natureza politizada e personalista desta eleição pode mudar o jogo.


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