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Clóvis Rossi

Vai ter Copa, mas...

Desde quando o Brasil foi escolhido, em 2007, o tema da segurança pública incomodava o mundo

Sete anos atrás, no dia em que o Brasil foi oficialmente anunciado como sede da Copa de 2014, a questão da segurança já pairava como assombração.

Tanto que uma jornalista canadense, Erica Bouman, irritou a pletórica comitiva brasileira com uma pergunta sobre os riscos de fazer a Copa em um país que, à época, era o quarto mais violento do mundo, segundo estatísticas da Organização Mundial de Saúde.

O então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, deu uma resposta cretina, dizendo que a violência era "um mal da humanidade", que não poupava país algum, inclusive o Canadá da jornalista, no qual a polícia teria agredido jogadores de uma seleção sub-20 do Brasil. Como se fosse sério comparar a violência no Canadá com a do Brasil.

Sete anos depois, o tema continua na pauta global, do que dá prova o fato de que, na sexta-feira, um jornalista inglês perturbou o pouco frequente bom humor de Jérôme Valcke, o secretário-geral da Fifa, com uma pergunta sobre o assunto.

Mas o que realmente chama a atenção é que, no noticiário internacional, a preocupação com a violência está mais focada na polícia, que deveria combatê-la, do que na delinquência.

Diz, por exemplo, o "Los Angeles Times": "O incidente [a morte do dançarino DG] foi o mais recente no qual os esforços da frequentemente criticada Polícia Militar para ocupar e 'pacificar' as centenas de favelas do Rio sofreram retrocessos em meio a uma violência que ressurge, empurrada pelas comunidades e por acusações de abusos aos direitos humanos".

Reforça, em "El País", seu notável correspondente Juan Arias: depois de citar "o inferno das várias guerras" em que está envolvida a presidente Dilma Rousseff, diz que "a que mais chama a atenção, a mais parecida a uma batalha de verdade, com armas, mortos, feridos e centenas de ônibus públicos incendiados, é a que se registra paradoxalmente nas chamadas 'favelas pacificadas' que os narcotraficantes começam a reconquistar das mãos da polícia".

No mesmo "El País", Francho Barón escreve que o Brasil está em "uma situação delicadíssima", porque, entre outros fatores, "os habitantes das favelas, que acumulam não poucos ressentimentos em relação a uma sociedade e a governantes que os trataram tradicionalmente como cidadãos de segunda, decidiram romper o silêncio".

Vista de fora, a crise de segurança pública no Brasil, principalmente no Rio, é tratada como uma verdadeira guerra talvez porque os correspondentes não precisam, ao contrário dos jornalistas brasileiros, debruçar-se sobre a nossa dose cotidiana de violência e, por isso, podem ter um olhar mais abrangente.

Quer dizer que não vai ter Copa? Acho que vai, sim. Já em 2007, na hora da escolha do Brasil, o então governador do Rio, Sérgio Cabral, lembrava que a cidade sediara sem maiores problemas a Rio-92, exercício de segurança mais complexo, usando inclusive o Exército na rua.

Mas há evidências de que a desconfiança com que se via o Brasil lá atrás estava plenamente justificada -e assim continua.

crossi@uol.com.br


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