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James Stavridis

Conflito na Ucrânia não levará a nova Guerra Fria

Ex-comandante militar da OTAN diz que não há como ocidente deixar de trabalhar com a Rússia para resolver o impasse

FABIANO MAISONNAVE DE SÃO PAULO

Ex-comandante supremo da Otan (Organização para o Tratado do Atlântico Norte) até o ano passado, o almirante aposentado americano James Stavridis afirma que a Rússia usa uma estratégia militar inédita e sofisticada para desestabilizar a Ucrânia.
Atualmente pró-reitor da Escola Fletcher, o ex-comandante, no entanto, descarta uma reedição da Guerra Fria.
A seguir, trechos de entrevista concedida na quinta-feira à Folha, em São Paulo, onde assinou um acordo de cooperação com o Instituto Fernando Henrique Cardoso e foi a um simpósio na Faap.

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Folha - O sr. defende o "poder inteligente". O que é?
James Stavridis - Os países usam uma variedade de capacidades para tentar influenciar eventos globais. Algumas vezes, usam poder militar, duro. Com mais frequência, acredito que a resposta correta seja utilizar o "poder suave", como exercícios militares de cooperação, antinarcóticos, trabalho conjunto em ações humanitárias.
O que proponho é o "poder inteligente", tentar encontrar o equilíbrio entre os poderes duro e suave. Estou convencido de que, na maior parte das vezes, é melhor inclinar em direção ao "poder suave".
Quanto mais incentivarmos países a pensar sobre suas capacidades na forma de um botão de termostato [variando entre "poder duro" e "poder suave"], há mais probabilidade de resultados.

Neste momento, o termostato da Otan está em qual ponto devido à crise ucraniana?
Está em direção ao "poder suave", mas a Rússia usou "poder duro" para invadir e anexar a Crimeia. Usa o mesmo para gerar violência e agitação no leste da Ucrânia.
Em resposta, a Otan está usando "poder suave": inteligência, cibernética, providenciando sistemas não letais, apoio financeiro para a Ucrânia. Vamos oferecer armas e munição, mas a Otan não vai usar força militar, porque a Ucrânia não é membro da organização.
Se a Rússia invadir a Estônia, um membro, o nosso indicador irá para "poder duro". Mas não acredito que a Rússia vá fazer isso.

Recentemente, o sr. disse que a Rússia estava jogando as suas cartas com "finesse".
Estava me referindo ao leste ucraniano. Na Crimeia, eles foram muito bruscos. Simplesmente enviaram forças e anexaram. No que resta da Ucrânia, têm sido muito cuidadosos. Em vez de tanques, estão usando cibernética, operações psicológicas, informação e militares especiais, por debaixo do radar. Tudo isso é para negar a sua presença. No entanto, toda a inteligência indica que eles estão de fato lá.
Isso é uma mudança do modus operandi russo?
Acredito que sim. Se você olhar o que aconteceu na Geórgia, onde os russos invadiram em 2008, eram militares agressivos e tradicionais.

O Brasil sofre críticas por não se pronunciar sobre a Crimeia.
Não vou comentar a política externa brasileira. Mas seria útil se todos os países do mundo, especialmente os muito importantes -e o Brasil é um deles-, apoiassem [a condenação à anexação].

Há muito debate sobre se a Guerra Fria está de volta.
Podemos ter um pouco de "cool war" (guerra fresca). O calor das nossas relações caiu significativamente. Mas não estamos a caminho de outra Guerra Fria. Como a nossa agenda é tão grande - Síria, Irã, Ártico, pirataria, Afeganistão-, temos de trabalhar com a Rússia.
Vamos lembrar o que era a Guerra Fria: milhões e milhões de militares com suas armas alinhados em toda a Europa se encarando. Armas nucleares. Não estamos nem perto disso.


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