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Eleições no Oriente Médio expõem falta de democracia

Militar é franco favorito no Egito, e pleito sírio deve sacramentar ditador Assad

Para analistas, líderes ganham fingindo ser democratas, e promessa da Primavera Árabe foi frustrada por divisões

DIOGO BERCITO DE JERUSALÉM

Eleitores no Egito e na Síria vão levar seus votos às urnas neste e no próximo mês. Argélia e Iraque votaram recentemente. Mas a temporada de eleições no mundo árabe, em vez de apontar para uma onda democrática na região, parece indicar o seu avesso.

O Egito deve eleger Abdel Fattah al-Sisi, ex-militar que depôs o presidente Mohammed Mursi. Na Síria, deve vencer o ditador Bashar al-Assad, cuja família e partido estão há décadas no poder. Já a Argélia reelegeu Abdelaziz Bouteflika para seu quarto mandato na Presidência.

Para o historiador Daniel Pipes, presidente do Middle East Forum, os processos democráticos recentes nesses países mostram que seus mandatários conhecem as regras do jogo da diplomacia.

"Eles entendem que a democracia é uma coisa positiva e fingem ser democráticos", diz à Folha. "Mesmo quando as eleições parecem ser justas, são fraudadas." Para o historiador, no Oriente Médio, "quanto mais importante o cargo, menos dúvida temos de quem vencerá".

A ideia contraria a expectativa diante da Primavera Árabe, de 2011, quando protestos populares empurraram para fora de seus tronos os ditadores Ben Ali (Tunísia), Hosni Mubarak (Egito) e Muammar Gaddafi (Líbia). Ali Saleh, do Iêmen, caiu no ano seguinte.

"Houve esforço coletivo, mas essas sociedades ainda estão divididas entre tribos e facções", diz o historiador israelense Eyal Zisser. "É preciso haver, antes, desenvolvimento social e econômico."

Para ele, a situação é mais delicada em países como Síria e Iêmen e mais tênue em Tunísia e Líbano --apesar de o último ser criticado pela presença de membros da facção xiita Hizbullah no governo.

TERMÔMETRO

Hafiz al-Bukari, diretor do centro de pesquisas iemenita YPC, diz não ser possível medir a democracia no Iêmen. "Não há nenhuma atividade democrática aqui."

Ele nota que mesmo o Diálogo Nacional, mediado pela ONU para discutir os problemas do país, teve membros apontados pela Presidência.

O Iêmen faz preparações técnicas para ter eleições democráticas, no futuro, e planeja um referendo para uma nova Constituição. Mas o país falha, avalia Bukari, em resolver os assuntos urgentes.

Mesmo os países que tiveram processos democráticos pós-Primavera, como o Egito, estão atentos aos próximos meses. O país havia, afinal, elegido o islamita Mursi para a Presidência --mas o depôs em um ano, com o Exército.

Hoje, o governo interino persegue os seguidores da Irmandade Muçulmana --centenas foram presos e, recentemente, condenados à morte.

O pleito deste mês será monitorado pelo centro Ibn Khaldun, dirigido pela ativista Dalia Ziada, que diz à Folha ter esperança no processo.

"Temos só uma preocupação. A lei impede que as pessoas questionem as decisões do comitê eleitoral, causando dúvidas sobre o processo", afirma. Sem a possibilidade de recorrer após o resultado, o centro de Ziada "vai ter um fardo pesado e terá de ser cuidadoso no monitoramento".

No país, haverá 3.500 observadores subordinados ao centro. Ziada espera poder eleger um presidente para todo um mandato. "A eleição de Mursi foi horrível. Documentamos várias violações."

É também um desafio para a região acomodar, após o fim das ditaduras, suas populações islamitas. O desafio é diário em países como a Tunísia, onde foi eleito o partido islamita moderado Al-Nahda, em constante conflito com os menos religiosos.


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