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Clóvis Rossi

A Rússia está perdendo

Uma visão mais abrangente da crise ucraniana mostra que os ganhos de Putin são pequenos na verdade

À primeira vista, a Rússia está ganhando todas as batalhas na guerra pela conquista (ou reconquista) da Ucrânia.

Mas um olhar mais atento mostra nuances. Primeiro, até dezembro, Vladimir Putin tinha a seu lado a Ucrânia inteira, sob a presidência de Viktor Yanukovich, que recusara um acordo de associação com a União Europeia para alinhar-se com a União Euroasiática que a Rússia está tentando construir.

Hoje, a Rússia tem só a Crimeia e ocupa, por interpostas pessoas, pedaços das regiões sul e oriental. Mas o coração ucraniano está agora voltado firmemente para a Europa.

Não é um desfecho inédito para outras aventuras russas em suas vizinhanças, como aponta Jeffrey Mankoff, pesquisador da Rússia para o Programa Eurásia do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington:

"Cada vez que a Rússia minou a integridade territorial de um Estado vizinho, em uma tentativa de manter sua influência nele, o resultado foi o oposto. O apoio de Moscou a movimentos separatistas em suas fronteiras levou o Azerbaijão, a Geórgia e a Moldova a sacudir sua dependência de Moscou e buscar novas parcerias com o Ocidente".

Mankoff acha que a Ucrânia seguirá trajetória semelhante.

Pesquisa recente do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev mostrou que a maioria dos residentes do sudeste ucraniano --justamente a região agora em efervescência-- é contra unir-se à Rússia. Querem permanecer na Ucrânia 70%, e só 15% apoiam a secessão.

Mais: 60% não aprovam a ocupação de prédios governamentais.

O problema é que tampouco o atual governo do país goza de muito prestígio no leste e no sul: no oeste, 78% apoiam o governo provisório, porcentagem que cai para apenas 16% no sudeste.

Esses números talvez ajudem a explicar por que Putin preferiu, até agora, uma ocupação disfarçada de áreas da Ucrânia, em vez de uma intervenção direta, que seria fácil. O próprio governo ucraniano já admitiu que suas forças estão "indefesas" nas cidades em que agem os grupos pró-Rússia, enquanto o Ocidente afirma, uma e outra vez, que não usará tropas na Ucrânia.

Ou seja, Putin tem tentadora via livre para ocupar os territórios em que há numerosa população russa.

Parece preferir, no entanto, como várias autoridades russas já afirmaram, a federalização da Ucrânia, para manter a sua influência no sudeste sem ocupá-lo diretamente.

Tudo somado, parece um ganho pequeno. Para um país que, como União Soviética, tinha as fronteiras de seus satélites bem fincadas em território europeu, é muito pouco ficar restrito, em sua nova versão imperial (a União Euroasiática), a Belarus e Cazaquistão, os únicos países que a ela aderiram até agora.

Ainda mais que as sanções ocidentais, por muito modestas que sejam, já estão mordendo uma economia cambaleante: a fuga de capitais no primeiro trimestre foi de US$ 60 bilhões, a Bolsa moscovita recuou 20% desde o início do ano, o rublo cedeu 8% em relação ao dólar e o FMI prevê crescimento perto de zero (0,2%) para este ano.


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