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Extrema direita avança em eleição europeia

Partido britânico anti-imigração pode ter até 40% dos votos do país para o Parlamento Europeu, dizem pesquisas

Resultado semelhante é previsto na França e em outros países; analistas veem 'recado' de eleitor contra a União Europeia

LEANDRO COLON DE LONDRES

Nem sete minutos de discurso inicial e surge a primeira interrupção: "Ukip, de jeito nenhum! Imigrantes, aqui para ficar!", gritam três jovens, imediatamente retirados por seguranças.

Pouco depois, novo protesto: "Racistas, racistas". Mais uma vez, os autores são obrigados a deixar o auditório ocupado por 300 pessoas em Londres. Outros ativistas são removidos à força. A Folha contou 15 expulsos em apenas 20 minutos.

O episódio de quarta-feira virou rotina em encontros do Ukip (Partido pela Independência do Reino Unido), a extrema direita britânica acusada muitas vezes de racismo por defender a restrição à entrada de imigrantes no país.

Nos últimos dias, pressionado, o partido anunciou punições a membros por declarações contra gays e islâmicos. Diz ter 37 mil filiados.

O Ukip é a sensação do momento após pesquisas que o colocam como sigla local mais votada nas próximas eleições do Parlamento Europeu (22 a 25 de maio). Na França, a extrema direita, com a Frente Nacional de Marine Le Pen, também deve liderar a votação da União Europeia.

Ou seja, duas das principais potências do bloco mandam um recado: apostam nos partidos "eurocéticos" em um Parlamento criado justamente para discutir a integração. Votação significativa nessa linha deve se repetir em países como Áustria, Holanda, Grécia e Finlândia.

"Para o bem ou para o mal, isso tem deslocado o centro da gravidade do sistema político para a direita autoritária", diz o professor Tim Bale, da Queen Mary University.

No Reino Unido, o livre trânsito de cidadãos da UE entre seus países é de longe o principal fator do crescimento de vozes como a do Ukip. Os números ajudam a esclarecer o fenômeno.

Em 2013, 532 mil pessoas chegaram de fora para viver em território britânico, sendo 209 mil europeus --60 mil a mais do que um ano antes. Em compensação, 320 mil migraram para outros países.

O saldo de 212 mil é mais que o dobro da meta prometida pelo premiê do país, o conservador David Cameron, no controle da imigração.

MENSAGEM

Em seu "manifesto de 2014", o Ukip é explícito: "Nós não vamos para o Parlamento Europeu para fazer uma UE melhor. Queremos decidir quem vem viver e trabalhar aqui. Você não quer?".

No evento de quarta, o líder do partido, Nigel Farage, subiu ao palco sob a euforia dos militantes e disparou: "Não me importo se você não concorda conosco, se acha o descontrole imigratório bom para o país. Mas, por favor, nunca nos chame de racistas. Só queremos retomar o controle de nossas fronteiras".

Detalhe irônico: Farage, membro do Parlamento da UE, é questionado pelo fato de que tem a própria mulher, uma alemã, como secretária.

Os críticos lembram que ela estaria, à custa do erário, tomando a vaga de um britânico, principal argumento do Ukip contra o bloco europeu.

"Nenhuma outra pessoa poderia estar à minha disposição a qualquer hora", defende-se Farage, que há pouco levou uma ovada na rua.

O Ukip foi criado em 1993 e até agora ganhara espaço muito mais por essa atitude nacionalista que pelo apoio popular: nunca elegeu, por exemplo, representante para a Câmara do Reino Unido.

Em 2009, porém, começou a incomodar na eleição do Parlamento Europeu, único órgão da UE cujos membros são escolhidos pelos cidadãos. Ficou em segundo, atrás do Partido Conservador, mas à frente do Trabalhista.

Agora, o sinal de alerta acendeu para os dois tradicionais partidos: segundo pesquisas, o Ukip deve, pela primeira vez, ser o mais votado na eleição europeia, com 30% a 40% dos votos na briga pelas 73 cadeiras do Reino Unido (são 751 para 28 países).

Não à toa, Cameron fez um apelo aos eleitores do seu partido, principal origem dos votos que migraram para o Ukip. Argumenta que a legenda levanta questões às quais não consegue responder.

Apesar da mensagem do eleitor britânico de que não está satisfeito com a postura do governo na UE, resta saber quantos desses votos ficarão com o Ukip na eleição geral do Reino Unido, em 2015.

Para Tim Bale, o recado deste mês vai, ao menos, obrigar os partidos tradicionais a se reposicionar. "Os conservadores terão de mudar ainda mais em direção ao Ukip. E os trabalhistas terão de reagir porque, como partido de oposição, estão vendo o Ukip como voz forte antigoverno".


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