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Zorro da Colômbia

Candidato a presidente, Iván Zuluaga cresce com discurso linha-dura, uso do 'Z' como marca e ajuda do marqueteiro brasileiro Duda Mendonça

SYLVIA COLOMBO ENVIADA ESPECIAL A BOGOTÁ

Com cerca de metade das pessoas sem saber em quem votar no próximo dia 25 de maio, a campanha eleitoral colombiana estava mais do que apática.

Nas ruas de Bogotá, via-se mais fotos de Mario Vargas Llosa em painéis (o Nobel foi homenageado na última Feira do Livro local) que as de candidatos à Presidência.

Até que uma letra "Z" com cores da bandeira da Colômbia começou a surgir em cartazes e na TV.

De repente, o sisudo candidato conservador, Óscar Iván Zuluaga, 55, passou a ser identificado como o "Zorro" da campanha. Crianças começam a repetir o gesto de desenhar a letra no ar com uma espada imaginária.

Sua candidatura, criada e impulsionada pelo ex-presidente Álvaro Uribe (2002-10), deu um salto. De apenas 8% das intenções de voto em janeiro, Zuluaga passou a 20%.

Hoje, o cenário mais provável é de segundo turno entre o presidente Juan Manuel Santos, candidato à reeleição, com 32% nas pesquisas, e Zuluaga, em 15 de junho.

Por trás da escalada fulminante está o marqueteiro brasileiro Duda Mendonça, 69, responsável pela campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, entre outras.

"Assumi a campanha no escuro, sem conhecer a Colômbia e nenhuma pesquisa. A marca do z' foi absolutamente intuição, acertamos na mosca. Hoje chamam o Zuluaga de Zorro, o justiceiro", disse Duda à Folha.

Nascido na província de Caldas, proveniente de uma família de empresários, Zuluaga foi presidente da Acesco, uma das mais importantes siderúrgicas do país.

Foi ministro de Economia de Uribe e um dos mentores do novo partido do ex-presidente e hoje senador, o Centro Democrático.

Ele tem se diferenciado dos outros candidatos por opor-se ao modo como estão sendo encaminhadas as negociações de Santos com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

O atual governo insinua conceder anistia aos ex-membros do grupo terrorista e oferecer a possibilidade de que se transformem em partido.

"Há uma parte importante dos colombianos que não quer isso. Quer ver os que cometeram crimes na cadeia. Eles veem a impunidade como um atentado à Justiça e às instituições. O uribismo está se aproveitando desse clamor, cada vez mais forte", diz o analista Dario Acevedo.

Em entrevista recente à TV, Zuluaga disse: "As Farc são grupo terrorista ligado ao narcotráfico. Queremos a paz, mas não com impunidade".

O candidato ecoa, assim, a opinião de seu padrinho político, cada vez mais agressivo com o ex-aliado Santos.

Entre os oposicionistas, apenas Zuluaga propõe rever o processo de negociações e adotar uma linha mais dura, reforçando o policiamento regional e aumentando penas.

Para Duda, a questão da paz não é a mais importante nessa campanha.

"Nós falamos de saúde, educação, segurança, salários. Até o projeto do Lula e da Dilma das casas populares será feito se ele ganhar. Zuluaga defende uma paz com justiça e cadeia para os líderes das Farc, enquanto o atual presidente defende uma anistia plena. As pesquisas mostram que 75% dos colombianos são contra isso."

Segundo pesquisa do Instituto Datexco, os problemas que mais preocupam os colombianos são, nesta ordem: desemprego, insegurança, saúde, pobreza, educação e conflito com as Farc.

ACUSAÇÃO

Em 2007, surgiram indícios de vínculo de Zuluaga com as Autodefensas Unidas de Colômbia (AUC), grupo paramilitar de direita que atua contra as Farc nos Estados.

A Justiça colombiana, porém, não considerou que havia provas suficientes para levar adiante um processo.

Para a oposição de esquerda, o uso do "Z" tem um significado forte e sugere atitude de intolerância.

"Só falta que Zuluaga faça o encerramento da campanha mascarado e vestido de Zorro para que jovens neonazistas que odeiam os judeus, os gays e os que acham que todos os que pensam diferente deles são comunistas o consagrem como mentor", diz a cientista política Maria Jimena Duzán.


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