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Clóvis Rossi

Vem mais cocaína por aí

Acordo na Colômbia, quando implantado, tende a fazer tráfico migrar para os vizinhos, Brasil inclusive

O governo colombiano chegou, na semana passada, a um acordo com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) sobre o tema da cocaína que pode provocar um choque razoável no negócio do narcotráfico, que movimenta algo em torno de US$ 300 bilhões (R$ 663 bilhões), segundo cálculos recentes do megainvestidor George Soros.

É lógico supor que, uma vez implementado o acordo, haverá inescapavelmente efeitos no Brasil, em geral considerado o segundo maior consumidor de cocaína.

Comecemos pelos pontos principais do acordo: primeiro, as Farc expressaram publicamente sua vontade de "pôr fim a qualquer relação que tenha existido com este fenômeno [o do narcotráfico]", conforme relato do jornal "El Tiempo".

Segundo, a guerrilha promete colaborar para a erradicação (voluntária) das plantações de folha de coca, matéria-prima da cocaína. Mais: a prioridade será a erradicação manual, em vez da fumigação, que gera sequelas ambientais e de saúde.

É bom deixar claro que o acordo só será implementado se e quando houver um entendimento sobre os seis pontos da agenda que está sendo negociada. Até agora, há acordo sobre três deles, incluindo o da cocaína.

Para entender o tamanho do choque, é preciso ter em conta que "a guerrilha é um jogador de primeira linha no narcotráfico na Colômbia, graças à sua presença nos principais encraves cocaleiros e a várias de suas frentes estarem envolvidas plenamente no negócio", conforme o relato de "El Tiempo".

Mais: "Seus homens protegem os cultivos em vários Departamentos [Estados]".

Se esse ator "de primeira linha" sair do jogo, o efeito será grande, mesmo se se aceitar que alguns guerrilheiros recalcitrantes preferirão continuar no negócio como franco-atiradores.

Como a Colômbia, ao lado do Peru, é o maior produtor mundial de cocaína, o efeito estende-se necessariamente além de suas fronteiras. Em entrevista à agência France Presse, o economista e especialista em drogas Felipe Tascón diz que, se se eliminar o problema na Colômbia, "a produção vai se concentrar no Peru ou pode aparecer em países como Venezuela ou Equador".

Eu acrescentaria o Brasil nessa lista, até por ser o único que tem fronteiras com os três grandes produtores (Peru, Bolívia e Colômbia).

Anos atrás, em conversa com um embaixador norte-americano na Colômbia, ouvi dele que, em razão da repressão na Colômbia, o narcotráfico já migrava para o Brasil. Nada mais natural que, desprotegido pelo afastamento da guerrilha, a migração só aumente, ainda mais se se considerar que as fronteiras brasileiras são sabidamente porosas.

Os valores envolvidos no negócio são formidáveis: Daniel Mejía, diretor do Centro sobre Segurança da Universidade dos Andes, que fez várias pesquisas sobre o tema, disse a "El Tiempo" que a guerrilha recebe cerca de US$ 2,5 bilhões (R$ 5,52 bilhões) ao ano com o narcotráfico, "metade do que se movimenta no país por essa atividade ilegal".

Um adversário tremendo, não?

crossi@uol.com.br


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