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Separatistas ameaçam eleição presidencial na Ucrânia
Movimentos que pedem a aproximação da Rússia bloqueiam acesso a zonas eleitorais para minar comparecimento e legitimidade
A 72 horas da eleição presidencial da Ucrânia, separatistas do leste bloqueiam zonas eleitorais para tentar impedir a votação considerada por Kiev fundamental para a estabilização política do país.
A Comissão Central Eleitoral anunciou nesta quarta-feira (21) que pelo menos 13 das 34 comissões distritais nas regiões de Donetsk e Lugansk estavam ocupadas pelos ativistas pró-Moscou.
Cada comissão comanda uma espécie de zona eleitoral, cujos membros são indicados por todos os candidatos. Entre suas principais tarefas estão organizar a eleição, distribuir as urnas para as seções de votação, fiscalizar e tabular os resultados, inscrever os observadores oficiais, entre coisas.
Das 22 zonas da região de Donetsk, pelo menos sete estavam sob poder dos separatistas até a tarde de quarta.
Na noite passada, a Folha encontrou uma delas cercada por barricadas de pneus, madeiras e tijolos.
Metade das 12 zonas eleitorais de Lugansk também permanecem sob domínio dos separatistas. Recentemente, eles realizaram referendo aprovando a independência da Ucrânia, porém sem reconhecimento por Kiev ou por potências ocidentais.
O Ministério do Interior da Ucrânia foi acionado para tentar desobstruir essas zonas de votação --algo, por enquanto, considerado bem difícil diante da falta de reação das forças de Kiev aos militantes pró-Rússia.
Porta-voz da chamada "República Popular de Donetsk", Denis Pushilin avisou que não há qualquer intenção deles em apoiar a eleição presidencial de domingo (25), convocada após a queda, em fevereiro, do então presidente Viktor Yanukovich, aliado de Moscou.
Ele foi irônico e chamou a Ucrânia de "país vizinho". "É claro que haverá tentativas, mas não estamos planejando qualquer votação no domingo. Como pode ocorrer em nosso território a eleição de um país vizinho?".
FAVORITO
Candidato favorito para vencer a disputa, o magnata Petro Peroshenko fez um apelo para que seja alta adesão do leste do país nas urnas.
Ao todo, 21 candidatos podem participar da eleição, mas a briga deve ficar entre Peroshenko e a ex-premiê Yulia Timoshenko, líder da "Revolução Laranja" de 2004, que estava presa até a recente queda de Yanukovich.
As últimas pesquisas mostram que Peroshenko tem grandes chances de obter mais de 50% dos votos e vencer no primeiro turno. Se isso não ocorrer, uma segunda votação está marcada para o dia 15 de junho.
A eleição coincide com a mais recente promessa do presidente da Rússia, Vladimir Putin, de retirar suas tropas da fronteira com a Ucrânia --os EUA, inclusive, reconheceram nesta quarta os primeiros sinais de que isso realmente está ocorrendo.
O russo e membros de seu governo até têm adotado um discurso de legitimar a eleição presidencial de domingo, mas ainda estão longe de qualquer diálogo com Kiev, como reforçou o primeiro-ministro interino da Ucrânia, Arseni Yatseniuk.