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Análise gás

Acordo energético marca nova vitória geopolítica de Putin

Pacto para a venda de gás tira Rússia do isolamento e fortalece aliança com a China contra os Estados Unidos

IGOR GIELOW DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O acordo Rússia-China é candidato a entrar nos livros de história como um capítulo central do século 21.

Os apologistas de Vladimir Putin podem comemorar o golpe de mestre, que tirou o russo de um córner decorrente de seu isolamento com a crise ucraniana. Dirão que ele criou uma saída a leste e poderá fazer deslanchar sua ideia de união na Eurásia.

A China, por sua vez, conseguirá mudar sua matriz energética, ganhando dinamismo econômico ainda maior, deixando para Putin o papel de "bad boy" das relações internacionais.

Os EUA fracassam por ora em sua aposta asiática. Desde o início da crise na Ucrânia, a diplomacia americana celebrava o distanciamento chinês do tradicional aliado.

A ameaça europeia de buscar alternativas ao gás russo e asfixiar o Kremlin vira pó com o novo cenário.

O pacto celebra uma série de vitórias geopolíticas de Putin, que vão de enrolar Obama na Síria a anexar a Crimeia como se estivesse em 1930. Seus adversários vendiam tudo isso como inevitáveis passos à perda da guerra ao fim. Não é bem assim.

Por outro lado, os críticos do autocrata russo poderão apontar que aliar-se à China estabelecerá uma dependência reversa, e não necessariamente um mutualismo. A Rússia poderá ter de se conformar com a posição de província energética de Pequim.

Seria preciso estar na cabeça de Putin para saber o que está na sua conta. Mas não é descartável o diagnóstico de que ele quer apenas encastelar-se com segurança.

Também é muito improvável que politicamente a aliança vá gerar energia para a reconstrução de uma bipolaridade global. Os modelos autoritários vigentes na Rússia e na China, muito diferentes entre si, não inspiram uma aliança ao estilo do bloco soviético --que forjou-se mais à força do que por ideologia.

Além disso, há a interdependência da China com o resto do mundo, o que evitaria pela lógica conflitos generalizados entre blocos.

Mas se uma guerra global soa delirante por nuclear, é bom lembrar que os russos sempre foram os principais fornecedores de tecnologia militar para os chineses, e o pacto irá aprofundar isso.

Áreas de atrito como os mares do Sul e do Leste da China poderão ter duas potências com o botão do Armagedon por trás de seus beligerantes, o que é uma ampliação dramática da política de alianças usualmente associada ao começo da Primeira Guerra Mundial, em 1914.

Essa perspectiva passadista é curiosa para um século nascido sob a égide de uma unipolaridade ameaçada por questões demográficas e pela sombra do 11 de Setembro.


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