Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Clóvis Rossi

Calma, a direita é minoria (ainda)

Crescimento dos partidos xenófobos na Europa expõe o desencanto com as agrupações tradicionais

O espetacular crescimento da extrema direita eurofóbica e xenófoba foi o destaque da eleição deste domingo (25) para o Parlamento Europeu.

É assustador porque, durante a campanha, Jean-Marie Le Pen, fundador da Frente Nacional francesa (talvez a maior vencedora do pleito), afirmou que "o senhor Ebola poderia resolver o problema demográfico da África". Esse nauseante convite ao extermínio de negros torna brincadeira de criança atirar uma banana para jogadores negros.

Mas, calma, gente, a Europa não se tornou esmagadoramente xenófoba nem eurofóbica da noite para o dia. Como adverte editorial do "Financial Times", "embora tenha sido um momento de triunfo para os partidos populistas [como são chamados os de extrema direita e também os de esquerda], os resultados estão longe de uma abrangente rejeição da União Europeia (...). Os eurocéticos permanecerão uma clara minoria no Parlamento Europeu. Dada a escala da crise econômica que a Europa sofreu, não chega a ser um grande feito para os que a rejeitam".

De fato, os partidos pró-UE (os conservadores do Partido Popular Europeu, a social-democracia, os liberais e os verdes) ocuparão algo em torno de 80% das 751 cadeiras.

Essa aritmética, em todo o caso, não serve de consolo para os grupos pan-europeus "mainstream". Todos eles perderam votos na comparação com a eleição anterior, de 2009.

"Há frustração com os partidos políticos tradicionais da Europa, amplamente percebidos como incompetentes, insensíveis às preocupações dos cidadãos, autocentrados e, em alguns países, diretamente corruptos", escreve Tony Barber, do "FT". Se há esse generalizado desamor aos partidos, ele está particularmente voltado para os que são vistos como responsáveis pelo austericídio, as políticas de austeridade que, entre outras tragédias sociais, fizeram o desemprego pular, em cinco anos, de 20 milhões para 26 milhões de pessoas.

A Espanha é um caso emblemático desse desamor: na eleição europeia de 2009, os dois partidos que dominam a política local (o conservador Partido Popular e o Partido Socialista Operário Espanhol) capturaram, juntos, 80% dos votos. Agora, apenas 49%. O PSOE iniciou a austeridade, que o PP aprofundou.

Pagam ambos. Ganha, por exemplo, o movimento dos "indignados", nascido como reação ao austericídio. Seu produto eleitoral, batizado de "Podemos", foi registrado há apenas três meses, gastou somente € 130 mil (R$ 393 mil) e obteve 8% dos votos, com o que elegeu cinco representantes.

Que o desemprego causado pela rigidez da austeridade foi central para o resultado da votação é assumido até pela governante que mais impôs austeridade (aos outros), a chanceler alemã Angela Merkel: "O melhor caminho é focar em melhorar a competitividade, em crescimento e na criação de empregos. É a melhor resposta para as pessoas desapontadas que votaram de um modo que não desejamos", reagiu nesta segunda-feira (26).

É o que todos vinham dizendo também antes do voto, mas nenhum fez.

crossi@uol.com.br


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página