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Marcos Troyjo
As 'modificações' da Índia
Novo premiê da Índia terá de se equilibrar entre modernidade e tradição na diplomacia e na economia
A ascensão de Narendra Modi ao governo da Índia gera grande expectativa na comunidade internacional. Seu apego a reformas modernizantes --surpreendente na disfuncional classe política indiana-- projeta o gigante asiático com potencial de crescimento anual de 8% por muitas décadas, à semelhança da China nos últimos 30 anos.
No campo das reformas em países emergentes, o entusiasmo por Modi compara-se àquele experimentado por Peña Nieto quando assumiu a Presidência mexicana, em fins de 2012. Em poucos meses de governo, arregimentou pactos necessários ao avanço de cinco reformas estruturais --entre elas a do setor de petróleo-- há décadas bloqueadas pela miopia política.
Seus primeiros cem dias como premiê farão história, assegura Modi. Para estar à altura das tarefas reformistas que os indianos lhe confiaram, terá de fazer "modificações" em duas frentes prioritárias: política externa e modelo econômico.
Na diplomacia, a Índia sempre conferiu --como o Brasil-- peso desproporcional à importância do Conselho de Segurança da ONU nas relações internacionais. Do ponto de vista realista --e das prioridades de uma nação em desenvolvimento--, o órgão não é tão relevante.
Os indianos, que por vezes preferem ações externas a produzir "status" em vez de poder e prosperidade, hão de conscientizar-se de que tal reforma é concretamente inviável sem o aval de Rússia ou China. Em se tratando de reforma do conselho, não há "solidariedade Bric". Ademais, o endosso dos EUA ao pleito indiano para tornar-se membro permanente é o beijo do Diabo. Apenas gera antipatia de outros países em desenvolvimento.
Na economia, o diferencial competitivo tem vindo da baixa remuneração do fator trabalho em setores como têxteis, metalurgia e call centers. Mas o que impressiona é a habilidade em tecnologias da informação. A Índia é o único país com o potencial de combinar competência técnica e espírito de empreendedor para rivalizar com os EUA em start-ups de base tecnológica. Se Modi facilitar a vida de pequenos tecnoempresários, a Índia multiplicará polos tecnológicos para além do respeitado "hub" de Bangalore.
A reconversão do modelo econômico chinês também pode gerar muitos efeitos colaterais positivos para a indústria na Índia. Na medida em que salários e demais custos de produção têm arremetido na China, a Índia é destino óbvio da diáspora corporativa chinesa.
Na diplomacia e na economia, Modi terá de equilibrar-se entre modernidade e tradição. Por um lado, uma elite intelectual que, vivendo na Índia ou no exterior, compete em qualidade e quantidade com o que há de melhor no planeta. Por outro, corrupção, burocracia e o extemporâneo sistema de castas aferram-na ao Quarto Mundo.
Uma Índia próspera representaria grande avanço da condição humana. Por volta de 2026, o país ultrapassará a China como o mais populoso. Crescimento econômico é essencial a uma nação em que há mais celulares do que vasos sanitários --e onde vivem mais pobres do que em todo o continente africano.
