Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Análise
Votos de protesto foram os grandes vencedores do pleito
ELENA LAZAROU BRUNO THEODORO LUCIANO ESPECIAL PARA A FOLHAEm junho de 1979, os então nove Estados da Comunidade Econômica Europeia deram um passo gigantesco para o início de um novo nível de democracia: a realização das primeiras eleições diretas para o Parlamento Europeu.
Ao estabelecer eleições diretas para esse órgão regional, almejavam acrescer a voz do povo --o "demos" na democracia.
Nos 35 anos seguintes, muito tem sido feito pela evolução da Europa unida em direção a maior integração. O Parlamento tem assumido maiores poderes no processo decisório.
No entanto, esse órgão tem sofrido subsequentes perdas de credibilidade, já que a participação nas eleições europeias tem sido sistematicamente baixa.
As eleições que ocorreram entre quinta (22) e domingo (25) não foram diferentes nesse sentido. A participação dos eleitores flutuou de 13% na Eslováquia até 74,81% em Malta. A média de participação foi de 43,09%, estabilizando o nível geral de participação das eleições de 2009.
A participação nas eleições do Parlamento Europeu caiu continuamente na década passada. Os eleitores sentem-se afastados das complicadas estruturas burocráticas que governam a UE, apesar de a crise do euro ter ilustrado que muitas das políticas implementadas nas capitais europeias são decididas em Bruxelas, sede da UE.
Isso explica por que o comportamento nas eleições europeias reflete os antagonismos entre os partidos políticos domésticos.
Os votos de protesto --a maioria direcionada à escolha de partidos de extrema direita e eurocéticos-- foram os grandes vencedores destas eleições. A Frente Nacional e o Ukip ficaram em primeiro lugar na França e no Reino Unido, respectivamente, ganhando 24 assentos no Parlamento cada. Na Grécia, o Aurora Dourada --com suas nuances neonazistas-- ficou em terceiro lugar.
A extrema esquerda também conquistou vitórias, exemplificadas pelo primeiro lugar alcançado na Grécia pelo partido Syriza.
O crescimento da esquerda radical é principalmente observado nos países mediterrâneos, como forma de reação à austeridade imposta pelas autoridades europeias.
De modo geral, a centro-direita, representada pelos pró-europeus do PPE (Partido Popular Europeu), manteve a maior bancada parlamentar (213 eurodeputados), ainda que reduzida em relação à legislatura passada (274).
Essa maioria garantiria, em tese, a indicação do democrata-cristão Jean-Claude Juncker como próximo presidente da Comissão Europeia. No entanto, a grande preocupação que surgiu é como a UE lidará com a ascensão de poderes opostos à própria integração europeia dentro de suas instituições.