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Entrevista - Paul Preston

Transformar a Espanha em república seria loucura

Para autor de biografia do rei Juan Carlos, país não está pronto para ter novo regime

LEANDRO COLON DE LONDRES

Autor da biografia não autorizada "Juan Carlos: um Rei do Povo", o britânico Paul Preston, 68, é categórico: não é hora de mudar o modelo político da Espanha após a abdicação do monarca, anunciada nesta segunda (2).

Para ele, a principal diferença dele para seu filho e sucessor, Felipe, é a relação com o povo. "Juan Carlos tem o toque popular. Felipe, não", disse em entrevista.

Na Europa, Preston é uma das maiores autoridades acadêmicas sobre Espanha. Dirige o centro de estudos hispânicos contemporâneos da London School of Economics.

Além da biografia do rei Juan Carlos, lançada em 2003, também fez uma sobre o general Francisco Franco, ditador entre 1936 e 1975.

Folha - Como avalia a abdicação de Juan Carlos? Foi uma surpresa para o senhor?
Paulo Preston - O fato de ter sido na segunda-feira (2), foi surpresa, mas o gesto, não.
O rei está com a saúde precária e cansado. Há ainda o contexto de uma crise econômica e política. O descontentamento com a economia e a sensação de que a classe política é corrompida atingem o rei. As acusações de corrupção contra sua filha e seu genro tiveram efeito na sua popularidade, assim como o caso da caça de elefantes.
O rei deve ter chegado à conclusão de que era um bom momento para abdicar. Mas sua importância foi imensa. A criação da democracia foi obra de muita gente, mas ele facilitou, chegou nomeado por Franco, o traiu e utilizou o poder de chefe das Forças Armadas para controlá-las e abriu a porta da democracia.

O futuro rei Felipe será capaz de resgatar a popularidade da monarquia?
Vai ser muito difícil.
Juan Carlos teve enorme popularidade pelo que fez há 40 anos, pela coragem que mostrou na transição. As pessoas se lembram disso. Ele tem o toque popular. Felipe, não. É mais frio, formal. Apesar de ser bem preparado e ter sido educado intelectualmente, até mais que seu pai, ele precisa ter mais contato com as pessoas.
A longo prazo, Felipe terá de manter a família no trono. A curto prazo, tem que se dissociar da classe política. Um melhora econômica ajudaria. Se tudo vai bem, as pessoas não buscam culpados.

O que significa a abdicação diante de protestos por um referendo para uma república?
Creio que não haverá um referendo. No momento, a monarquia está preservada.
No meio de tantas crises na Espanha, uma mudança total da forma de Estado seria uma loucura. Mesmo assim, esses movimentos indicam a escala dos problemas que Felipe terá de enfrentar, como o referendo de independência da Catalunha, em novembro.
Felipe, como rei, estará contra a separação. É algo que exigirá sensibilidade e flexibilidade. E será difícil, porque a missão do rei é manter a unidade.

Nem a longo prazo a monarquia pode ser extinta no país?
Vejo como uma coisa perigosa, mas, claro, pode ocorrer se o novo monarca não se mostrar capaz de solucionar os problemas.
Eu acho que seria um erro mudar pela simples razão que a Espanha é um país muito dividido, com diferenças entre esquerda e direita.
Aqui, no Reino Unido, as diferenças são mínimas e há um nível de diálogo. Na Espanha, há um autêntico ódio, porque não se solucionou o problema da guerra civil.

Em dois anos, três monarcas europeus abdicaram para herdeiros. Isso não mostra um certo declínio da monarquia?
Quem pensa nisso se dá conta de que a monarquia é uma instituição medieval.
Por que alguém deve ser chefe de Estado porque seu pai foi? As pessoas não querem isso. Mas há diferenças.
No caso da Espanha, a monarquia foi o mecanismo para se passar da ditadura para a democracia. As pessoas de menos de 40 anos não se lembram dos atos de Juan Carlos ou não haviam nascido.
Se fosse mudar para república que garantisse a solução... Mas não é o caso.
É um pouco como em 1931, quando chegou a segunda república. Todos esperavam mudanças impossíveis. Depois, na transição de Franco para o reinado de Juan Carlos, houve também expectativa, inclusive de quem acreditasse que seu time de futebol fosse ganhar mais partidas.


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