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Clóvis Rossi

A China pode ser um modelo?

Vinte e cinco anos após o massacre, prosperidade do "capitalismo leninista" atrai mentes e corações

Vinte e cinco anos depois do massacre da praça da Paz Celestial, a China sufoca a memória do episódio com um misto de prosperidade (muita) e repressão (mais ainda).

Sobre esta, depõe para a "Foreign Policy" Shalil Shetty, secretária-geral da Anistia Internacional:

"A campanha das autoridades para evitar que as pessoas celebrem as centenas, talvez milhares, de civis desarmados que foram mortos ou feridos em 1989 é um evento anual. Mas, este ano, o movimento para calar dissidentes foi mais severo do que em anos anteriores --inclusive do que no 20º aniversário --, com métodos mais duros e mais gente enfrentando detenção".

Sobre o misto de prosperidade e repressão, diz, para "El País", Shen Tong, um dos líderes do protesto estudantil, hoje residente nos Estados Unidos: "Há o chamado milagre econômico chinês, apesar do grave retrocesso na política, nos direitos humanos e nas liberdades civis. Mas o que fizeram durante o massacre foi utilizar uma força avassaladora para provocar comoção em toda a nação e para deixá-la em um estado de total submissão."

Postas as coisas nesses termos, cabe perguntar se a prosperidade é suficiente para transformar a China em modelo para outros países.

Tiimothy Garton Ash, professor de Estudos Europeus em Oxford, chama a experiência chinesa de "capitalismo leninista" (regras capitalistas impostas pelo partido único) e afirma que "a China, hoje, para um estudioso de política comparativa, é o lugar mais interessante do mundo: um experimento verdadeiramente novo, com um futuro ainda incerto".

Menos condescendente, Minxin Pei, PhD de Harvard, define a China como "uma cleptocracia de funcionários governamentais e homens de negócio com boas conexões", na qual "a corrupção descontrolada e a crescente desigualdade, junto com óbvia decadência ambiental, estão levando os chineses comuns --especialmente a classe média, que, antes, tinha grandes esperanças nas reformas-- a se tornar crescentemente desiludidos".

De minha parte, prefiro o Brasil, por incontáveis defeitos que tenha. Se se tomar a eleição de 1989 no Brasil, mesmo ano do massacre na praça da Paz Celestial, como o evento que marcou a plena redemocratização, enquanto a China manteve-se uma ditadura capaz de levar seus cidadãos à "total submissão", como diz Shen Tong, por aqui vive-se o mais longo período de plena vigência das liberdades públicas.

Na China, como depõe Shalil Shetty, da Anistia, "o governo tem impedido que mães e pais manifestem publicamente seu pesar pelas crianças que perderam na sangrenta repressão".

No Brasil, apesar do atraso intolerável, filhas e filhos vitimados pela repressão podem ser devidamente honrados, ainda mais agora com as comissões da verdade.

Mesmo na economia, o invejável crescimento chinês não impede que o país seja apenas o 101º colocado no ranking do Desenvolvimento Humano, enquanto o Brasil ocupa um triste, mas superior, 85º posto.

Prefiro o 85º com democracia ao 101º com ditadura. E você?


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