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Matias Spektor

Um país que pode

O próximo presidente do Brasil irá definir sua política externa por limites mais do que por oportunidades

A última pesquisa do Datafolha revela o tamanho da tensão política neste início de Copa e joga os holofotes sobre os 30% de eleitores que não têm candidato, número inédito nessa altura da disputa.

Juntos, esses dados comprovam aquilo que já era visível na rua: pela primeira vez na Nova República, o próximo presidente será forçado a tomar as rédeas diante de uma população ativamente insatisfeita com aquilo que o sistema político é capaz de lhe entregar.

Mais do que em qualquer outra transição recente, a deste ano introduz um símbolo de interrogação sobre o futuro da barganha entre capital e trabalho, mercado e Estado, elite e povo que caracterizou nossa vida coletiva nos últimos 20 anos.

A questão não é trivial, pois tais compromissos estão na base do casamento entre estabilidade financeira, redistribuição de renda e implementação lenta, porém real, da Constituição de 1988 --a coisa mais próxima que temos de um grande consenso nacional.

A questão é grave porque a conjuntura mundial é ruim para o Brasil e não dá sinais de melhoria imediata. O próximo presidente subirá a rampa de seu palácio sem a sensação de possibilidade da qual gozaram FHC em 1995, Lula em 2003 ou Dilma em 2011.

Quais as implicações para a política externa?

É provável que o próximo governo concentre esforços para reconstruir a credibilidade da economia e da política. É o que se ouve de Lula e FHC, Aécio e Dilma, Eduardo Campos e pastor Everaldo. Nesse contexto, a política externa tende a ser minimalista, sem grandes lances.

Isso não é necessariamente ruim, caso o governo tenha êxito. Afinal, para um país como o nosso, a redução das desigualdades com democracia é um recurso de poder em si mesmo: é o tipo de atributo que melhora de imediato nossa posição relativa no sistema internacional.

Esse modelo, no entanto, gera seus próprios problemas. Quem melhor sintetizou o ponto foi José Dirceu. "O subconsciente do país é nacionalista", disse. "O sentimento histórico do brasileiro médio é a ideia de que o Brasil basta a si próprio, que é uma grande nação, um país que pode."

Na década de 2000, Lula resolveu a questão do sentimento nacionalista via política externa. Lançou uma ambiciosa agenda de reformas da governança global que puseram o país no mapa e, pelo menos até a Declaração de Teerã, lhe deram níveis antes desconhecidos de autoridade. Durante todo o processo, ele ancorou seu projeto numa plataforma de orgulho e autoestima.

O próximo presidente não contará com o mesmo espaço de manobra dentro ou fora do país. Sua política externa será definida por limites mais do que por oportunidades. Mas, assim como os antecessores, precisará encontrar a fórmula para lidar com o sentimento nacional.


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