Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.

Iraquianos se alistam para combater rebeldes

Homens e mulheres se apresentam em Najaf, centro do ramo xiita do islã, atendendo ao chamado do governo

Inimigo é o grupo EIIL, do ramo rival sunita, que defende Estado islâmico e ameaça tomar a capital, Bagdá

SAMY ADGHIRNI ENVIADO ESPECIAL A NAJAF (IRAQUE)

Coberta da cabeça aos pés pelo véu preto que caracteriza muçulmanas xiitas devotas, Shukria Al-Yaseri, 55, quer pegar em armas e lutar até morrer.

Na manhã desta quarta-feira (18), ela se inscreveu como voluntária num programa do governo iraquiano que visa cooptar cidadãos comuns no esforço para conter o recente avanço de grupos sunitas ultrarradicais sobre várias áreas do país.

"Confio cegamente no nosso governo e, por isso, quero ajudá-lo a defender o Iraque", disse Yaseri, ao se registrar num centro de recrutamento improvisado numa escola primária de Najaf, 170 km ao sul de Bagdá.

Um dos lugares mais sagrados do ramo xiita do islã e capital religiosa do Iraque, Najaf é alvo prioritário do Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL), facção dissidente da Al Qaeda que aterroriza a região.

O EIIL considera hereges os xiitas (65% da população) e ameaça arrasar Najaf, em especial o suntuoso santuário onde está enterrado o imã Ali, sobrinho do profeta Maomé. Os sunitas são 30% dos iraquianos.

A declaração de guerra do EIIL levou o maior líder espiritual do xiismo iraquiano, aiatolá Ali al-Sistani, a deixar de lado suas posições tradicionalmente conciliadoras e pedir, na semana passada, uma mobilização geral contra os extremistas.

"Aquele que se sacrifica pelo seu país, sua família e sua honra morrerá como mártir", disse Sistani.

Dominado por xiitas, o governo do premiê Nuri al-Maliki criou um Birô de Agrupamento Popular para coordenar o recrutamento dos voluntários.

Aberto a todos, o programa prioriza, porém, iraquianos que já trabalharam nas forças de segurança ou com experiência militar adquirida nas guerras contra Irã e EUA.

Candidatos mais preparados se tornarão assalariados do Estado, o que atrai interesse de iraquianos desempregados ou de baixa renda.

"Não estou aqui pelo dinheiro", desconversa o militar da reserva Ali Taher, 59, roupa surrada e boca desdentada. Só em Najaf, mais de 50 mil voluntários se inscreveram, segundo o governo local. O número no plano nacional é mantido em sigilo.

Na tarde desta quarta, membros de tribos pró-governo dançavam e cantavam pelas ruas de Najaf, erguendo seus fuzis e pistolas, sob um sol de 40º C.

O sucesso da iniciativa obteve bênção dos clérigos de Najaf. "O governo provou que não tem capacidade de responder à altura o massacre de civis pelos terroristas", afirmou o xeque Ali Basheer al-Najafi.

Diante da crise e da possibilidade de um ataque a Bagdá que poderia selar o colapso do poder central iraquiano, Najafi se disse favorável ao apoio de potências estrangeiras, desde que seja no "âmbito da legalidade internacional." Ele não especificou, porém, se apoiaria uma ofensiva americana.

RACHA INTERNO

Apesar da necessidade de fazer frente ao inimigo comum, os xiitas de Najaf estão divididos, complicando ainda mais o cenário de clivagens sectárias que assolam o Iraque desde a queda do ditador sunita Saddam Hussein, em 2003.

O Exército Mahdi, a milícia xiita que tem Najaf como base e é tida como a mais poderosa do país, se recusa por enquanto a engrossar fileiras anti-EIIL.

"Temos nossa própria maneira de ver as coisas", disse um miliciano e funcionário do governo local identificado apenas como Zashrawy.

Ele, aparentemente, se referia às críticas do líder do Exército Mahdi, Moqtada al-Sadr, ao premiê Maliki, acusado de ser corrupto e próximo demais do Irã.

Ontem, dezenas de homens do Exército Mahdi marcharam pelas ruas da cidade.

"Nossos combatentes não aderiram à iniciativa do governo, mas temos estreita cooperação com a inteligência", afirmou Zashrawy.

Alguns iraquianos temem que a decisão de armas civis --xiitas-- resulte em ainda mais violência. "Precisamos de uma estratégia política de diálogo nacional, não de uma estratégia militar", diz Hana Edward, da ONG de direitos humanos Al Amal. Ele acusa Maliki de ter adotado nos últimos anos políticas sectárias que alienaram sunitas.

"O avanço do EIIL é consequência de ações do governo que deram a muitos iraquianos a sensação de ser tratados como inimigos em vez de cidadãos", declarou.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página