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Clóvis Rossi

Verdade em inglês é mais verdade

Entrega de documentos dos EUA ao Brasil tende a produzir mais revelações do que foi possível ter por aqui

Prometedora A iniciativa do governo norte-americano de entregar à Comissão da Verdade documentos relativos ao período da ditadura.

Não que possam surgir grandes revelações sobre a participação dos EUA na conspiração e no golpe propriamente ditos. Essa parte já está bem documentada no Brasil.

O jornalista Marcos Sá Corrêa, então no "Jornal do Brasil", mergulhou em papéis da Biblioteca Lyndon Johnson, presidente à época do golpe, e produziu belíssimo trabalho a respeito, depois editado em livro. Elio Gaspari também mostrou detalhes interessantes nos seus clássicos sobre a ditadura.

O que pode surgir de interessante são revelações sobre a repressão, aparentemente o foco dos documentos, tanto que a destinatária é a Comissão da Verdade.

Interessa-me, em particular, a chamada Operação Condor, a multinacional repressiva montada pelos militares do Cone Sul para liquidar adversários dos regimes nele instalados.

Há uns 30 anos, participei de um grupo de jornalistas latino-americanos que ensaiou investigar a operação. Não fomos muito adiante porque todos os países do Cone Sul eram ditaduras, o que dificulta, como é óbvio, toda e qualquer mexida em seus podres.

Mas obtivemos indícios razoavelmente sólidos de que a Condor fora montada em uma Conferência dos Exércitos Americanos realizada em Montevidéu em 1975, meses antes do golpe na Argentina, que fecharia o ciclo de regimes ditatoriais na região.

Se foi assim, é razoável supor que exista algum documento oficial que fale da Operação Condor, suposição que me foi dada como sólida por um coronel do serviço da inteligência da Bolívia.

Os documentos dessas conferências são caudalosos. Obtive, em 1988, o texto integral de uma delas, a 17ª, realizada em 1987, em Mar del Plata (Argentina).

Transcorridos 12 anos do que se supõe seja o batismo da Condor, o documento continua prenhe de um anticomunismo primário, a ponto de prever "ações nos demais campos do poder", além do estritamente militar, para "a segurança e defesa do continente americano contra o Movimento Comunista Internacional (MCI)."

Como os EUA são membros plenos --e, obviamente, os mais importantes-- das conferências americanas dos Exércitos, seus arquivos devem conter preciosidades a respeito dessas "ações nos demais campos do poder". Logo, os documentos a serem liberados para a Comissão da Verdade brasileira tendem a produzir informações que ela ainda não obteve.

A menos, é lógico, que os documentos liberados procedam apenas dos ramos civis da administração norte-americana, não necessariamente informados dos detalhes da cooperação com a repressão praticada pelas ditaduras.

De todo modo, os EUA se irritaram bastante com um dos crimes da operação --o assassinato, em plena Washington, de Orlando Letelier, que fora chanceler no governo constitucional de Salvador Allende.

Em tese, pois, há aí um filão a explorar. Que seja bem explorado.

crossi@uol.com.br


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