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Ucrânia assina acordo polêmico com Europa
Pacto é o mesmo cuja recusa, em novembro, levou a protestos e à queda do presidente pró-russo Viktor Yanukovich
Assinatura terá graves consequências, afirma o Kremlin; presidente ucraniano estende por 3 dias trégua a rebeldes
A Ucrânia assinou nesta sexta-feira (27) o mesmo acordo comercial com a União Europeia cuja recusa, em novembro do ano passado, gerou a onda de protestos que deixou 106 mortos no país até abril e derrubou o presidente Viktor Yanukovich, aliado da Rússia.
Além dos protestos, centenas morreram em conflitos no leste ucraniano desde abril, quando rebeldes pró-Rússia começaram a controlar cidades e prédios do governo, num esforço para se alinhar com os russos em vez da UE.
Assinado em Bruxelas, o acordo incluiu mais duas ex-repúblicas soviéticas, Geórgia e Moldova, e prevê dispensar esses países de tarifas de exportação nas vendas ao bloco europeu. Em contrapartida, terão de fazer reformas econômicas.
"Que grande dia! Possivelmente o mais importante para meu país desde a independência [da União Soviética], em 1991", declarou o presidente ucraniano, Petro Poroshenko --eleito para o cargo em maio, três meses depois da deposição de Yanukovich.
"Todos nós preferíamos ter assinado este acordo sob circunstâncias diferentes, mais confortáveis. Por outro lado, a agressão externa à Ucrânia é outra forte razão para esta etapa crucial", acrescentou Poroshenko, referindo-se aos russos, acusados de ajudar militarmente os insurgentes.
"A União Europeia está a seu lado [da Ucrânia], hoje mais que nunca", declarou Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu.
A cerimônia de assinatura reuniu os líderes dos 28 países do bloco, além de Poroshenko e dos primeiros-ministros da Geórgia e da Moldova. O líder ucraniano afirmou que o pacto será aplicado em toda a Ucrânia, "inclusive na Crimeia" --região em disputa com a Rússia.
Principal responsável pela pressão para que Yanukovich não assinasse o acordo, o governo russo reagiu com veemência. Um assessor do presidente Vladimir Putin, Sergei Glaziev, chegou a chamar Poroshenko de "nazista".
O vice-chanceler da Rússia, Grigori Karasin, disse que o pacto terá "graves consequências", sem citar quais. O Kremlin também prometeu adotar medidas contra eventuais perdas na sua economia --hoje, a Ucrânia é muito dependente do comércio com os russos.
Tanto Van Rompuy como o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, insistiram em que nada no pacto afeta a Rússia. "O acordo é positivo. Não foi feito contra ninguém", disse Barroso.
CESSAR-FOGO
Também nesta sexta, Poroshenko estendeu por mais três dias a trégua com os insurgentes pró-Rússia.
Em Bruxelas, os líderes europeus votaram contra novas sanções aos russos, mas deram prazo até segunda (30) para que Putin exerça influência sobre os rebeldes visando ao término dos confrontos.