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Cidades dos EUA vetam crianças imigrantes

Barreiras à transferência de menores ilegais reavivam debate sobre reforma imigratória, que se arrasta no Congresso

Total de adolescentes e crianças que cruzaram fronteira sozinhos dobrou em 1 ano; maioria é da América Central

ISABEL FLECK DE NOVA YORK

Nos últimos dias, moradores de cidades americanas nas costas leste e oeste se mobilizaram para impedir a chegada de menores que entraram ilegalmente no país.

O movimento levou para as ruas de Lawrenceville (Virgínia) e Murrieta (Califórnia) o debate político sobre reforma da imigração que se arrasta há anos em Washington.

No último ano, o número de menores desacompanhados que cruzaram a fronteira pelo México praticamente dobrou, chegando a 52,2 mil entre outubro de 2013 e 15 de junho. Cerca de 75% deles vieram da Guatemala, de Honduras e de El Salvador. A principal causa apontada para o "boom" é o aumento da violência nos países de origem.

Diante do que chamou de "crise humanitária", o presidente Barack Obama ordenou que o Departamento de Segurança Interna coordenasse esforços para manter os jovens em abrigos e os ajudasse a reencontrar familiares que vivem nos EUA.

Com os centros de patrulha da fronteira já lotados e usados de forma improvisada no Texas e no Arizona, o governo decidiu transferi-los para outras cidades. Mas isso tem gerado reação.

"Não havia mais capacidade de processamento na região do Rio Grande [fronteira com o México]. Tivemos de ir para outros lugares", explicou o secretário de Segurança Interna, Jeh Johnson.

A explicação não foi suficiente para convencer os moradores. Em Lawrenceville, a comunidade impediu que 500 jovens fossem abrigados no St. Paul's College, faculdade tradicional pela formação de alunos negros.

O deputado republicano Robert Hurt, que representa a região no Congresso, enviou um pedido ao governo federal para que reconsiderasse o envio dos menores diante "das preocupações muito sérias da comunidade com segurança e saúde públicas".

Derek Lewis, dono de uma pizzaria local, foi um dos que não apoiaram a ideia, com medo da "fuga" dos menores. "Nossa principal preocupação é o potencial para o crime", disse à rádio NPR. Após uma assembleia local, a transferência foi suspensa.

Para o reitor da faculdade, Millard Stith, a posição dos moradores da cidade --que tem 1.500 habitantes, 77% deles negros-- foi uma "vergonha". "É um misto de egoísmo e medo. Eles se esquecem de que somos um país de imigrantes", disse à Folha.

BARRICADA

Em Murrieta, as reações da cidade de cerca de 105 mil habitantes foram mais explosivas. Na última terça-feira (1º), um pequeno grupo de manifestantes com cartazes bloqueou a estrada, impedindo que três ônibus com cerca de 140 imigrantes --em sua maioria mulheres e crianças-- entrassem na cidade.

Três dias depois, cerca de cem pessoas, desta vez divididas em grupos contra e a favor da transferência, fizeram protesto diante do centro da Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP na sigla em inglês), para onde os imigrantes deveriam ser levados.

Para Marguerite Telford, diretora do conservador Centro de Estudos para Imigração, é compreensível a preocupação com o grande fluxo de imigrantes ilegais nos EUA.

"O presidente não parece se importar com os receios dos cidadãos que representa, apenas com os dos imigrantes ilegais", diz. "Alguns desses jovens precisam, de fato, de tratamento de saúde após a travessia, mas depois devem retornar aos seus países, à sua família. É incorreto dizer que todos estão procurando seus pais nos EUA."

Megan McKenna, diretora da organização Kids in Need of Defense (crianças que precisam de defesa), porém, defende que é preciso oferecer aos jovens um tempo necessário para que consigam, ao menos, iniciar um processo judicial para pedir proteção.

"Não estamos dizendo que todos os jovens devem ficar nos EUA; alguns não se qualificarão diante da lei e terão que retornar. Mas toda criança deve ter uma chance real de pedir a proteção dos EUA, por meio de um advogado."

Na última semana, o secretário de Estado, John Kerry, reforçou que o país ajudará os três principais países de origem a combater os problemas de segurança. Mas sustentou que jovens que estiverem ilegais serão deportados.

"Entendemos que pessoas busquem uma vida melhor, mas ao mesmo tempo há uma lei a ser seguida", disse.

O vice-presidente, Joe Biden, falou recentemente com líderes dos três países e anunciou um apoio de US$ 255 milhões, a serem usados para ajudar na repatriação dos deportados e em programas de combate à violência local.


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