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Brasil é visto como imperialista no continente, diz Mujica

Em entrevista à Folha e ao UOL, presidente uruguaio diz que Mercosul está estagnado e defende uma maior integração comercial

FERNANDO RODRIGUES DE BRASÍLIA

O presidente do Uruguai, José Mujica, 79, afirma que persiste na América Latina uma sensação sobre o Brasil ser um país imperialista. "A atitude imperial do Brasil pode ter sido consequência de sua história", afirma.

Em entrevista à Folha e ao UOL, ele diz que "o mais inteligente do Brasil é que percebe que, embora seja grande, precisa de um todo para acompanhá-lo na tentativa de fazer algo na negociação mundial". Uma assimetria na integração nacional brasileira prejudicaria essa posição do país em foros internacionais. E ajudaria a manter a imagem de imperialista.

"Quando há a colheita do arroz no Uruguai, os caminhões começam a passar [em direção ao Brasil]. Há uma parte do Rio Grande do Sul que não gosta. Eles estão certos", diz Mujica, que falou na quinta-feira (17), na embaixada do Uruguai, em Brasília.

Mais conhecido por suas posições liberais na área de costumes --como o projeto que legalizou o plantio, venda e consumo de maconha--, Mujica é também a favor de mais integração comercial na América Latina.

Só que o Mercosul está "estagnado". Seus "organismos de arbitragem não funcionam", e tudo tem de ser feito via "chancelarias presidenciais". Para o uruguaio, "os interesses empresariais nacionais são muito fortes e não priorizam a busca da integração. O que existe de mais forte economicamente é a burguesia paulista".

Para ele, "o papel da burguesia paulista deveria ser unir aliados, tentar construir um sistema de empresas transnacionais latino-americanas. Pelo seu tamanho, tem a responsabilidade de conduzir. Mas comete um erro se quiser fagocitar porque, em vez de ganhar aliados, ganha inimigos que se opõem à integração".

"Fagocitar" é um termo emprestado da biologia. Trata-se do processo no qual ocorre a "ingestão e destruição de partículas", na definição do dicionário Houaiss --uma das funções da fagocitose seria a proteção do organismo contra infecções.

O problema, diz, é que o mundo atravessa uma crise na política. "Não é um problema do Brasil. É um problema global. A política não governa. O processo de globalização anda solto, sem governança".

Conhecido como Pepe Mujica, o uruguaio termina seu mandato no início de 2015, quando assumirá o presidente a ser eleito em novembro. Mujica cita o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como responsável pela maior presença do Brasil no plano externo. Diz ter sugerido uma vez ao brasileiro que comandasse a Unasul (União de Nações Sul-Americanas), mas ouviu não como resposta.

"O Lula, que é muito astuto e inteligente, dizia-me: Olhe, Pepe, se eu for, eles vão dizer... o imperialismo brasileiro' ", relata. Há diferenças entre Lula e Dilma Rousseff? "Dilma é uma mulher muito trabalhadora, tenaz. Provavelmente, uma boa administradora. Não tem a personalidade política do Lula. E por algum motivo foi eleita pelo Lula, por algo foi eleita".

Neste mês, ele anunciou que a implantação completa da lei da maconha será apenas em 2015, já durante o mandato de seu sucessor. Ele não crê em recuo, mesmo se um opositor vencer.

E por que não colocar em vigor já? Por causa de uma questão agrícola: "É necessário plantá-la [a maconha] e produzi-la. As plantas têm o seu próprio ciclo. É necessário fazer estufas. Estamos fazendo as mudas. Fazendo a reprodução vegetativa. Poderão começar a florescer em janeiro, fevereiro".

Sobre o jogador de futebol Luis Suárez, suspenso depois de ter mordido um atleta da Itália durante um jogo da Copa do Mundo, Mujica se mostra compadecido. "Esse menino tem algum problema aqui [apontando para a cabeça]. Vem de um lar muito pobre. A raiva o enfurece e ele não se domina. Era o caso de levá-lo a um hospital para tratá-lo com psiquiatra. É um problema que não se soluciona com sanções".


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