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Parte dos militares de Israel desconhece alvo de seus ataques

Brasileira que controlava tráfego aéreo para bombardeios contra Gaza diz que colegas não sabiam o que atingiam

Cada missão é feita por um comandante e dois operadores; só ele tem informação exata sobre o local a ser atingido

LEONARDO BLECHER DE SÃO PAULO

Uma grande parte do processo que envolve um ataque aéreo de Israel é feita por militares que não sabem exatamente o que estão atingindo.

Cada missão é acompanhada por um comandante e dois operadores no centro de controle de tráfego aéreo do Exército. Eles orientam o piloto do avião sobre o trajeto que fará até efetuar o disparo.

Os operadores não sabem o que é o alvo; só conhecem sua localização, que aparece para eles como um ponto no radar. Uma imagem capturada por um drone mostra, em preto e branco, o caminho do míssil, sem nitidez.

A brasileira Ana (nome fictício), que não quis se identificar, fazia parte do comando de tráfego aéreo em 2008, quando ocorreu a operação Chumbo Fundido, em que Israel atacou Gaza por 22 dias. Ela presenciou diversas missões feitas por sua base.

"A gente não sabe quem está atacando, só recebe uma pasta com ordens", afirma.

"Eu nunca atirei, porque não conseguiria fazer isso. Eu sabia que tinha uma pessoa ali embaixo e, para mim, isso era muito complicado", disse Ana à Folha.

Segundo ela, às vezes os envolvidos fazem uma celebração após o ataque.

"Ninguém fica feliz em fazer isso, mas eles comemoram o sucesso da operação."

Ana pediu tratamento psicológico ao Exército ainda durante o serviço militar.

PLANEJAMENTO

Os ataques aéreos feitos por Israel começam a ser planejados pelo serviço de inteligência, que determina os alvos de acordo com dados coletados ao longo dos anos.

Antes da aprovação de um alvo, ocorre um estudo do contexto. São considerados aspectos como posição geográfica, proximidade de civis e estrutura da edificação.

"Esse é um trabalho diário, de verificar quem mora em qual andar, quantos andares tem a casa, a estrutura da casa", disse à Folha o brasileiro André Lajst, sargento retirado da inteligência da IAF (Força Aérea Israelense), que participou da operação Pilar Defensivo, em 2012, a última antes da atual ofensiva contra Gaza, chamada de Margem Protetora.

A partir desse estudo, são definidas as características do ataque: armamento utilizado, ângulo do disparo, entre outros aspectos.

Chegado o momento do ataque, os moradores da região são comunicados por panfletos, ligações telefônicas e mensagens SMS. O Exército dá poucos minutos para que as pessoas deixem suas casas. Se os civis não o fazem, um drone israelense despeja um míssil pequeno e sem pólvora no telhado, como aviso. A técnica é chamada "knock on the roof" (bater no telhado, em tradução livre).

As autoridades israelenses dizem que militantes do Hamas, grupo que controla Gaza, obrigam ou instruem cidadãos a permanecerem em suas casas após os avisos.

No entanto, os moradores se negam a evacuar a área também por outros motivos.

Segundo o jornalista palestino Ahmed Balousha, 24, não há para onde fugir. "Gaza é muito pequeno. Se deixarmos nossas casas, para onde podemos ir?"

Em contato com a Folha pela internet, Balousha, que vive na cidade de Beit Lahya, disse que as pessoas têm medo de que suas casas sejam tomadas pelos israelenses.

DISPARO

Depois das preparações e dos avisos, o ataque pode ser feito por drone ou por um avião de guerra tripulado por um piloto e, em alguns casos, também por um navegador.

O piloto parte para a missão com instruções detalhadas para o ataque. No entanto, a decisão final é dele. Se ele perceber a presença de civis ou movimento de carros na rua, pode abortar.

Caso contrário, o míssil é disparado e teleguiado, pelo piloto ou o navegador.

Quatro aviões acompanham e filmam a operação, para registrar o resultado do disparo. Além disso, a inteligência do Exército descobre o número de mortes e outras consequências.

Do outro lado, os palestinos tentam descobrir quem pode estar preso entre os destroços e quais são as vítimas.

Este processo acontece várias vezes ao longo do dia. A operação Margem Protetora não tem data prevista para terminar.


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