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Livro mostra diversidade e contradições do Irã
'Os Iranianos', do jornalista Samy Adghirni, será lançado em São Paulo nesta quinta
A construção da imagem do Irã aos olhos do brasileiro e, em mais larga escala, do ocidental vem sendo tecida a partir de três perspectivas.
Em primeiro lugar o noticiário, focado no conservadorismo do regime. Na literatura, alguns best-sellers como "Persépolis" ou "Lendo Lolita em Teerã" relatam as agruras de uma sociedade secular tentando sobreviver a uma revolução religiosa. E o cinema, feito de parcos recursos, mas que por uma narrativa sofisticada nunca se furtou de expor as mazelas do país.
O livro "Os Iranianos" (Contexto), de Samy Adghirni, correspondente da Folha em Teerã de 2011 a junho deste ano, lança luz sobre a complexidade que marca essa sociedade em transformação. A obra será lançada nesta quinta (24) em São Paulo.
Como diz o autor, o objetivo "é pegar o leitor pela mão e lhe apresentar um país sobre o qual ele ouve notícias quase todo dia, mas não necessariamente o conhece".
Com linguagem leve e didática, o livro é uma imersão na vida cultural, política e econômica do Irã.
Inevitavelmente, uma imensa gama de contradições desponta. O Irã ostenta Índice de Desenvolvimento Humano superior ao brasileiro (posição 76 no ranking mundial, nove à frente do Brasil), sistema de saúde pública de bom padrão e com ensino extremamente competitivo e elitizado. A taxa de analfabetismo é baixíssima, e o nível de instrução da população vem sendo saudado pela ONU.
O país tem sólida tradição, remontando ao império persa, que um dia ocupou as fronteiras do atual Afeganistão à Grécia. Até hoje, ecos dessa tradição se fazem sentir, a começar pela língua, o farsi, que pouco tem a ver com o árabe dos vizinhos.
Berço de religiões seminais como o zoroastrismo, ou de grandes poetas como Hafez e Omar Khayyam, o país tem repertório cultural vasto.
"O contraste é entre um regime anacrônico e a maior parte da população, não apenas a classe média alta, que enxerga nele uma loucura ideológica absurda e ridícula. Por isso na esfera privada as pessoas vivem uma outra vida", diz Adghirni.
A "outra vida" consiste em desacato ao jejum do Ramadã, mesmo que seja comendo biscoito no banheiro. Ou o consumo de bebidas alcoólicas, apesar da proibição.
A cultura americana, abominada pelo regime, é admirada pelos seus cidadãos.
Talvez o status da mulher no Irã seja o que melhor simboliza essas contradições. Elas são obrigadas a usar o véu, andar na parte de trás do ônibus e na esfera legal ainda são muito desfavorecidas.
Mas é comum namorarem antes do casamento, votam, são eleitas e trabalham livremente em todas as áreas.
"Os Iranianos" ajuda a desfazer a imagem de uma sociedade anacrônica que muitos poderiam supor verdadeira, a julgar pela leitura superficial que as notícias sobre o país podem inspirar.