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Minha História Vladimir Gudkov

Sobrevivendo entre bombas

Ucraniano que mora perto da fronteira russa relata como tenta sobreviver e trabalhar em meio à guerra

LEANDRO COLON ENVIADO ESPECIAL A MAKIIVKA

Moro num vilarejo com minha mulher, grávida de cinco meses, meus pais, minha avó e uma tia. Todas as noites, escutamos ataques aéreos do conflito do governo da Ucrânia com os separatistas [pró-Rússia].

Ontem mesmo (21), dormimos sob barulhos de explosões. Já me acostumei. O porão da casa está pronto, para o caso de precisarmos usá-lo como um abrigo antibombas.

O conflito mudou a vida de todos nós, na região de Donetsk. As pessoas estão perdendo seus empregos e indo embora para outras áreas da Ucrânia ou para a Rússia.

Tenho vários amigos que já saíram daqui. Um deles deixou a casa para trás. Está vazia, ao lado da minha. É muito triste tudo isso.

Trabalho como vendedor de cigarros há um ano e meio e estou desde o mês de junho passado sem receber salário. A empresa diz que não tem mais dinheiro para nos pagar. Eu recebia € 300 por mês (cerca de R$ 900).

Meu irmão, que tem salário de € 70 como policial de trânsito, também está sem receber. Nem trabalha mais direito porque, com os rebeldes no controle da cidade, nenhum policial pode atuar.

Não quero deixar minha terra, mas, com a cidade controlada pelos separatistas, a economia vai sofrer e não teremos emprego. Donetsk era uma cidade rica, é difícil aceitar isso. Um amigo meu foi para Moscou e disse que lá posso arranjar trabalho.

Agora, sinceramente, eu concordo que Donetsk não deveria fazer parte do território da Ucrânia. É um erro histórico, porque a maioria, aqui, sempre preferiu ser parte da Rússia. E esse sentimento só aumenta na população quando o governo da Ucrânia ataca a região e mata moradores.

Na minha opinião, os Estados Unidos são os grandes culpados por tudo isso, porque não querem que a região fique ligada à Rússia. Fariam o mesmo se fosse o Brasil.

A solução é parar a guerra, sentar e tentar buscar uma saída. Se o cenário não mudar e eu não conseguir ir embora, não descarto pegar em armas. Nunca atirei, não sei fazer isso, mas é a minha terra, e eu preciso defendê-la.

Posso garantir que a maioria dessas pessoas que estão com armas na mão não é politizada, não sabe bem o que é o movimento separatista. O que elas querem é comida e emprego e acham que o presidente russo, Vladimir Putin, pode dar isso.

Você pode não concordar com o que vou dizer, mas eu acho que não precisamos de democracia, precisamos de oportunidade de trabalho, emprego, comida. Na Rússia, você não tem uma democracia plena, mas a vida é melhor.

Eu nasci em 1986, portanto era muito pequeno e não me lembro da União Soviética. Mas o meu pai, atualmente aposentado, nasceu e viveu durante aquele período. E ele não tem nenhuma dúvida de que a vida era muito melhor.


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