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Clóvis Rossi

Quando Israel se sente sitiado

O efeito psicológico da suspensão dos voos para Tel Aviv versus o sangue dos palestinos

Um dos foguetes que o Hamas disparou sobre Israel fez mais estragos que os outros 2.158 lançados desde o dia 8 até esta terça-feira (22).

Foi o que atingiu uma casa na cidade de Yehud, a 2 quilômetros do aeroporto Ben Gurion de Tel Aviv, o que levou a Agência Federal da Aviação norte-americana a determinar o cancelamento de todos os voos em direção a Israel, movimento seguido por boa parte das empresas aéreas europeias.

O principal prejuízo decorrente nem é financeiro, por mais que a indústria de turismo israelense sinta o golpe, já que é o auge do verão no hemisfério norte e, por extensão, da temporada turística.

A suspensão dos voos atinge em cheio o moral dos israelenses, do que dá testemunho o colunista Aharon Lapidot, do "Israel Hayom" ("Israel Hoje"), o de maior circulação atualmente no país, ultraconservador e ultranacionalista.

Lapidot escreveu que a decisão da agência norte-americana "é um movimento dramático, que aumentou a sensação de sítio e isolamento entre muitos israelenses".

Outro analista judeu vai um pouco na mesma direção, mas referindo-se aos foguetes do Hamas em geral e não apenas ao que levou à suspensão dos voos (inicialmente por 24 horas, mas prorrogada nesta quarta-feira por outras 24).

Trata-se de Ariel Ilan Roth, diretor-executivo do Instituto Israel, centro de estudos baseado nos Estados Unidos e destinado a informar sobre Israel.

Para Roth, o objetivo estratégico do Hamas é abalar a sensação de normalidade dos israelenses: "Só é possível para Israel existir como uma florescente e próspera democracia, mesmo sob permanente conflito, quando seus cidadãos são capazes de manter a ilusão de que suas vidas são mais ou menos similares às que aspirariam a ter em Londres, Paris ou Nova York".

Não estou tão certo de que a maioria dos israelenses compare suas vidas em Israel como a que levariam se mudassem para as grandes capitais citadas. Ao contrário, minha sensação das muitas viagens à região é a de um crescente orgulho nacionalista por viverem como vivem mesmo sob fogo.

Lembro-me de uma vez ter entrado em uma sala de bate-papo para judeus, antes de viajar para cobrir uma eleição lá, informando que gostaria de manter contato com pessoas comuns, em vez de conversar apenas com os suspeitos de sempre (políticos, autoridades em geral, acadêmicos etc). Primeira resposta obtida: "Em Israel, não há pessoas comuns".

Fecho o parêntesis e volto a Ilan Roth, que acha que, se sua premissa for correta, "o Hamas já ganhou". Ganhou porque "abalou a ilusão, necessária para os israelenses, de que o impasse político com os palestinos sai de graça para Israel". Mais: "Mostrou aos israelenses que, mesmo que os palestinos não possam matá-los, podem cobrar um pesado preço psicológico".

O problema com esse raciocínio é que os palestinos também estão sitiados e pagam um preço não apenas psicológico mas em vidas para que Israel possa sossegar a psique de sua gente.


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